A morte de crianças, seres recém iniciados na vida física, desafia há milênios a inteligência humana buscando razões filosófico/religiosas para os motivos dessa ocorrência.
À luz das religiões tradicionais fica difícil, senão impossível, entender Deus que, aparentemente de forma injusta, retira do seio familiar seres ainda não comprometidos perante a lei divina, na visão da unicidade da existência.
No Espiritismo, doutrina que esclarece a multiplicidade das existências do Espírito – reencarnação – encontra-se explicações lógicas para tal ensejo, compreendendo a perfeita justiça e misericórdia divina na morte das crianças.
André Luiz1 afirma que “Muitas existências são frustradas no berço, não por simples punição externa da Lei Divina, mas porque a própria Lei Divina funciona para todos nós, desde que todos existimos no hausto do Criador”.
A Lei de Causa e Efeito é inexorável a todas as criaturas. Quando essa lei é violada se faz necessária a reparação inevitável pelo agente causador, para o seu próprio prosseguimento evolutivo.
“Frequentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operam em nossa alma calamitosos desequilíbrios (…)” que “(…) determinam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do psicosssoma (…)”, afetando no campo da natureza íntima do ser que necessitam de reajustes através dos processos cármicos reencarnatórios.
Frente ao impacto da desencarnação provocada, a alma entra em “pavoroso colapso” e “indescritíveis flagelações” que podem conduzir essas mentes perturbadas, já na dimensão espiritual, para processos de loucura profunda.
Torna-se imperioso, após certo período na erraticidade, a reintegração deste Espírito no plano carnal, como enfermos graves, em breves períodos de vida física, para, com a colaboração dos Espíritos encarnados, reabilitarem-se gradativamente dos débitos adquiridos conjuntamente.
Então, renascem Espíritos comprometidos em corpos com debilidades físicas ou mentais, para tratamento e recuperação do corpo espiritual em distonia.
Além dos Espíritos missionários, das experiências solicitadas e das provações dos familiares, as existências interrompidas no alvorecer da vida física “(…) representam cursos rápidos de socorro ou tratamento no corpo espiritual desequilibrado por nossos próprios excessos e inconsequências (…)”.
Deus justo e bom, oportuniza a todas as criaturas a possibilidade de recomeço, sendo a escola da Vida o educandário que merece o nosso apreço. O corpo físico, como instrumento de manifestação do Espírito, faz jus ao respeito e cuidados necessários para o seu bom aproveitamento, cabendo-nos o aperfeiçoamento em amor e sabedoria, aprimorando a Vida na busca da aproximação com o Criador.
Importante ressaltar que a criança que desencarna recebe todo o amparo dos benfeitores espirituais e recomeça na erraticidade a preparação para uma nova existência no plano físico, na maioria das vezes com uma carga menor de comprometimentos.
Luis Roberto Scholl 1Todos os textos e palavras destacadas em itálico foram extraídas do livro Evolução em Dois Mundos de André Luiz/Francisco Xavier e Waldo Vieira, Federação Espírita Brasileira, 22.ed.- 2004, p.261-265.