Urge dentro do ser humano a necessidade da convivência como forma de equilíbrio e sanidade física e mental. Apesar de precisarmos de momentos de solidão para meditação e reavaliação, na maior parte das horas, é no contato humano que nos sentimos felizes. Ele é tão necessário que algumas pessoas preferem a convivência negativa e prejudicial ao isolamento social.
A Lei de Sociedade explicada na 3ª parte, no capítulo 7 de “O Livro dos Espíritos” enfatiza a interdependência entre os seres, mecanismo que a Divindade colocou para as criaturas aprenderem no auxílio mútuo e no atrito das diferenças, a arte de conviver, praticando o amor e o perdão.
O motivo da infelicidade do ser humano não se encontra nas dores, nos problemas materiais ou nas desilusões, mas na incapacidade de dar e receber nas trocas afetivas e sentimentais com o outro.
As exigências que se fazem nessas permutas denota um indivíduo com um profundo grau de imaturidade e insegurança, pois só sente alegria quando se percebe admirado, querido e até invejado. Na impossibilidade de comungar esses sentimentos, torna-se amargurado e infeliz.
Normalmente, na convivência se deseja exatamente o que o outro é incapaz de dar. Ou, pior ainda, se é incapaz de receber o que ele tem a oferecer. Exige-se, para nutrir o ego, formas de amor e de carinho que talvez não estejam ao alcance do outro, por ainda não pertencerem ao seu aprendizado espiritual.
Quando amadurece e busca sua identificação espiritual, o ser se liberta do comportamento ambíguo de ser feliz pela aprovação dos outros. Compreende ser ele o protagonista de sua própria história e vê a realidade do pensamento excelente de Francisco de Assis “é dando que se recebe”, comprometendo-se com o dar(compreensão, amor, afeição); o receber é a conseqüência natural.
Um ensinamento de um antigo mestre consistia em oferecer uma maçã aos discípulos novatos. Se o aluno estendia a mão e tentava pegar a maçã, o mestre entendia que sua caminhada iluminativa seria mais longa. Se o discípulo estendia a mão e a deixava aberta para receber a maçã, o sábio percebia um discípulo mais apto parareceber os ensinamentos e, no hábito da convivência, aceitar os outros como eles são, o que, na realidade, é a base fundamental da sabedoria.
A essência da convivência é aceitar do outro o que ele tem para oferecer naquele momento, sem exigir o que acreditamos merecer. Se aquilo que nos foi ofertado não é compatível conosco, nada impede de buscar outras formas de troca com a mesma pessoa ou com outra, sem que isto seja considerado uma rejeição, se respeitada a individualidade do próximo.
Para esse aprendizado é necessário primeiro compreender a sua própria natureza espiritual, desistindo, pelo menos por um certo tempo, de si mesmo, estabelecendo limites para as próprias necessidades, suspendendo-as e colocando-as de lado, para poder se dedicar ao ato de receber o outro.
Receber os sentimentos, os defeitos, as virtudes, sem interferir, sem querer modificá-los é a dádiva mais íntima e, talvez, a única que realmente temos para dar.
Ao aceitar o cônjuge, o filho, o amigo, o colega, o estranho como se recebe um presente de uma criança, sem medições, julgamentos, comparações, análises ou expectativas, estar-se-á realizando um inter-relacionamento verdadeiro e rico, baseado no amor mais profundo.
A essência da feliz convivência consiste em saber que o outro é um indivíduo único, com história e trajetórias próprias, moldado em inúmeras reencarnações, e que a simples passagem ou as profundas trocas de experiências que ocorrem bastam para tornar o ser mais maduro, mais satisfeito e mais feliz.
Luis Roberto Scholl