Edith Taylor se considerava a mulher mais feliz da vizinhança. Era casada há 23 anos com Karl e sentia-se tão apaixonada como na época do namoro, a tal ponto de seu coração ainda pulsar mais forte quando ele chegava em casa. Karl trabalhava nos armazéns do governo norte-americano e isto o obrigava a ausentar-se muitas vezes da cidade. Em suas viagens, escrevia todas as noites para Edith e lhe enviava pequenos presentes.
Em fevereiro de 1950 foi mandado para Okinawa, Japão para um novo trabalho. Era tanto tempo e tão longe… As cartas que ajudavam Edith a matar a saudade, começaram a rarear cada vez mais, e a permanência de Karl no Japão se tornava cada vez mais longa. Após um extenso período de silêncio, veio uma carta: “Querida Edith. Gostaria que houvesse uma maneira mais suave de dizer… que não estamos mais casados…” Ele havia escrito para o México e solicitado o divórcio por correspondência. Tinha se casado com Aiko, uma jovem japonesa de 19 anos, designada pela empresa para servi-lo.
Edith, muito abalada, não odiou Karl, nem desejou vingança, não sentiu rejeição. Ela o tinha amado tanto que era incapaz de parar de amá-lo. Talvez, algum dia, ele voltasse para casa…
Passou a viver em função deste pensamento e continuou a manter contato com o ex-marido, pedindo que ele a mantivesse à par de sua vida. Ficou sabendo do nascimento das duas filhas de Karl, do progresso de Aiko no inglês, do crescimento das crianças.
Então chegou uma notÍcia terrível: Karl estava com câncer de pulmão e tinha pouco tempo de vida. Ele não temia por si, mas sim por Aiko e as duas meninas. Como seria o futuro delas?
Edith compreendeu que ainda poderia dar um último presente ao homem que tanto amava: a paz de espírito. Escreveu-lhe que, se Aiko concordasse, após a sua morte, ela ficaria com Mary e Helen e as educaria nos Estados Unidos. Durante os meses que se seguiram à morte de Karl, Aiko não deixou as crianças irem embora. Mas a vida de pobreza, servidão e desespero, a fez refletir que as suas filhas só teriam alguma chance nas terras do pai.
Então Edith, aos 54 anos, recebia em sua casa as filhas do homem que tanto amou. Receosa de início, logo percebeu que sua vida novamente se enchera de brilho e alegria, sentia novamente vontade de voltar para casa, após o trabalho. Mas, as cartas de Aiko ainda lhe enchiam de tristeza: a solidão, a saudade que ela sentia das meninas, cortavam-lhe o coração. Ela sabia o que era ficar sozinha… Em um impulso, passando por cima de qualquer resquício de orgulho que talvez ainda possuísse, chegou a conclusão que Aiko deveria também vir morar com ela e as crianças. Por ela ser cidadã japonesa houve dificuldades para sua imigração, mas Edith não desistiu até atingir o seu intento.
Quando o avião chegou ao aeroporto, Edith teve um momento de medo. E se ela viesse a odiar aquela mulher que lhe tirara Karl? A última pessoa desceu do avião, era uma menina tão frágil e pequena que parecia uma criança. Aiko estava em pânico! Todas as dúvidas se dissiparam da mente de Edith que sorriu e abriu um grande abraço para receber a sua “rival”. Teve um pensamento extraordinário: “Eu rezei para que Karl voltasse. Agora ele voltou em suas duas filhas e nesta meiga menina que ele amou. Meu Deus, ajude-me a amá-la também.”
“Tia Edith” como era chamada pelas três, era uma orgulhosa mãe de duas crianças e uma jovem imigrante que cresceram felizes na vida que ela lhes ofereceu. Soube tirar proveito de uma situação que poderia ser muito dolorosa, para exercitar o amor, o perdão, a caridade. E foi recompensada por isso. “Embora Deus tenha levado uma vida que eu amava tanto, deu-me outras três para amar. Sinto-me tão agradecida!”
História da revista Seleções do Reader’s Digest de junho de 1966, adaptada pela equipe do Seara Espírita.