Era um dia de sol maravilhoso, mais belo que de costume. Rita terminou de arrumar as malas e foi para o rotineiro destino de final de semana, visitar seus pais em uma cidadezinha próxima. Naquele dia quase perdeu o ônibus, mas conseguiu chegar a tempo. Entrou, sentou, colocou o rádio nos ouvidos e adormeceu. Quando o ônibus fez a parada para o almoço, Rita que, normalmente, ficava dentro do ônibus cochilando, como “obra do acaso”, resolveu fazer diferente e desceu para comer.
Almoçou e parou próximo do ônibus, quando viu uma senhora que parecia tão feliz, cuidando do seu filho com muito amor. E essa demonstração de carinho chamava a tenção de todos que estavam ao seu redor.
Rita foi até a senhora para conhecer a criança tão abençoada, pois aquela mãe parecia amá-la de uma forma contagiante. Quando aproximou-se mais, percebeu que a criança possuía uma grande deficiência física, a caixa torácica era toda alterada, deformada, e devido a isso tanto os membros superiores quanto os inferiores ficaram desfigurados.
Naquele momento, Rita sentiu piedade, misturada com uma sensação de pena, e pensou: “Minha nossa! Pobre mulher! Que sofrimento… Deve ser uma mulher muito forte para carregar tamanha cruz!” E em meio aos seus pensamentos começaram a surgir perguntas: “Será que ela não teme pelo destino daquela criança? Que futuro ela teria? Isso não refletiria em tristeza ou revolta por existirem tantas crianças perfeitas e saudáveis no mundo e justo seu filho nascer daquela forma, com tantas limitações, exigindo demasiados cuidados especiais?”
Quando a mãe olhou na sua direção, sorriu com um brilho no olhar sereno, e Rita não conseguiu mais conter seu desejo de respostas. Aproximou-se, cumprimentando-a e perguntou:
– Desculpe-me, não quero ser indiscreta, mas o carinho que a senhora devota a sua filho é de impressionar, que idade tem seu filho?
A mãe respondeu:
– Obrigada, ele tem 13 anos e se chama Vitor.
– Ele é um vitorioso e a senhora também, você cuida sozinha dele ou tem alguém que a ajuda? – perguntou Rita.
A mãe prontamente respondeu que sim, gesticulando com a cabeça e acrescentou que sentia um grande prazer em cuidar do filho, ele significava a razão de seu viver. Rita se interessou pela história e como observou que a mãe não tinha nenhuma objeção em responder seus questionamentos, um pouco tímida e tentando não ser inconveniente, perguntou:
– Há alguma razão para a deficiência do Vitor? A má formação decorreu de problemas no parto?
E para a maior surpresa, a mãe respondeu que não tinha uma informação certa porque não acompanhou o parto do Vitor, ela o adotou quando tinha três anos de idade, e desde esse momento ela se tornara uma pessoa completa, pois encontrou um sentido e um motivo para viver.
Aquela resposta foi um choque, pois o que ela imaginara ser uma cruz pesada e imposta a uma pobre mulher, na realidade era uma benção em sua vida.
Rita se sentiu tão insignificante perante a grandeza moral daquela mãe que não conseguiu disfarçar seu constrangimento, sua face ficou rosada. Mas a mãe, sentindo o desconforto de Rita, logo já foi puxando outro assunto e contando mais sobre sua rotina com o filho tão amado, Vitor.
O horário do almoço passou depressa, e logo Rita teve que voltar para o ônibus. Mas aquela viagem permaneceu na sua memória por bastante tempo, pois proporcionou muitas e importantes reflexões sobre o amor incondicional.
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Todas as situações da vida tem uma explicação na Lei de Causa e Efeito: quando não se encontra a causa nesta existência, certamente ela estará na existência anterior e a reencarnação surge como oportunidade valiosa de resgatar os débitos do passado e de aperfeiçoar-se em vista ao futuro.
Dor e sofrimento não são castigos, assim como a felicidade não é graça divina: tudo é resultado das ações sob a responsabilidade de cada um.
Juliana Guzzo