“Uma noite, já muito tarde, eu ia sozinho a pé para casa, pelo mesmo caminho que sigo há três anos. Apesar da minha cegueira, tateando com a minha bengala, vou demarcando os acidentes do percurso como pontos de referência, de tal maneira que não se tornou difícil a minha movimentação pelo bairro.
Mas, naquela noite, algo de estranho aconteceu. Uma pequena cerca que me servia de ponto de identificação havia sido tirada pela manhã após a minha passagem e a sua ausência me desnorteou. Como já era muito tarde, a rua estava deserta e eu não conseguia mais encontrar o caminho de volta para casa.
Caminhando sem orientação, já um tanto preocupado, de repente me vi em uma ponte sobre o rio que separa a nossa cidade da cidade vizinha. Sabia que tinha que voltar para trás e vinha tateando ao longo da mureta, com certa dificuldade, quando atrás de mim uma voz feminina indagou:
– O senhor está enfrentando alguma dificuldade?
– Acho que me perdi – respondi aliviado ao escutar uma fala amiga.
– Foi o que pensei. Quer que eu o acompanhe a algum lugar?
Percebi que sua voz estava trêmula. Com alegria, dei-lhe meu endereço e ela me levou até a porta de casa. Durante o caminho, praticamente não conversamos.
– Não sei como lhe agradecer – disse-lhe com sinceridade, ao chegarmos em casa.
– Eu é que tenho que lhe agradecer – respondeu ela, já com voz firme.
– Não compreendo – repliquei.
– Há uma semana meu marido me abandonou. Eu estava naquela ponte com a intenção de me suicidar. Até você chegar. Então, eu mudei de ideia. Boa noite.
E saiu com passos firmes e, posso dizer, até alegres, por não ter cometido aquele ato insano. Desapareceu, nunca mais a encontrei.”
Deus, benevolente, coloca seus filhos, imperfeitos, carentes, necessitados, um ao lado do outro para que, no exercício da caridade, ajudem-se mutuamente e possam crescer e evoluir no aprendizado do amor.
História adaptada pela equipe do Seara Espírita com base em texto de autor desconhecido.