A medicina contemporânea elaborou técnicas muito avançadas que, junto a evolução tecnológica, têm proporcionado à humanidade um alívio de suas maiores dores fisicas: a possibilidade do transplante de órgaos entre dois seres, sendo um deles o doador, considerado morto por não mais haver atividade detectável no tronco encefálico e o outro, uma pessoa enferma, com seu organismo avariado, que tem uma chance maior de sobrevida com o transplante.
Uma dúvida comum entre aqueles que cogitam doar órgãos e tecidos é se esses lhe farão falta na vida espiritual. Ocorre que, quando desencarnamos, estamos libertos da matéria, do corpo carnal. Vivemos, portanto, apenas em espírito, na dimersão espiritual, onde não há influência da matéria. O organismo físico se decompõe, os átomos retornam à natureza, mas o espírito permanece vivo e pleno. De tal forma, o corpo material não interagindo com o espírito, após o desencarne, o destino daquele é indiferente ao ser espiritual, salvo nos casos onde seu apego à matéria é excessivo.
Como um ato de caridade, a doação de órgãos, significando a prática do bem, não poderia gerar dor ou sofrimento. É antes um gesto de amor e generosidade ao próximo, beneficiando o espírito que abandona a matéria e retorna ao plano espiritual.
Questiona-se, também, se a medicina é realmente capaz de determinar, com certeza, se um paciente está morto, sem quaisquer condições de recuperação. Segundo o Dr. Cícero Galli Coimbra, médico neurologista e professor adjunto de neurologia e neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo, os atuais critérios de diagnóstico de morte do tronco encefálico não são definidos e confundem diagnóstico com prognóstico, ou seja, ao acharem que o paciente não tem mais condições de retorno de atividade encefálica o determinam como morte cerebral.
De acordo com a opinião da Dra. Elizabeth Resende Nicodemus, médica anestesista do Hospital de Clínicas de São Paulo, legista do IML-SP, membro da Associação Médico Espírita de São Paulo, o órgão de maior hierarquia no ser humano não é o coração, mas sim o encéfalo, sendo que o conceito médico atual define como morte “a cessação irreversível das funções encefálicas”. O reconhecimento do quadro clínico, somado a exames complementares que conferem ausência de circulação cerebral, através de uma equipe extremamente rigorosa, torna o indivíduo um potencial doador de seus órgãos vitais.
Como percebemos, as dúvidas persistem nas autoridades médicas também.
E quanto ao Movimento Espírita, qual é a sua orientação? Por serem conceitos recentes, não há uma definição desse assunto como um todo. Mas já há um posicionamento a respeito de muitos temas, abalizados na fé raciocinada e na opinião de Espíritos respeitáveis.
Alguns pensam que a doação de órgãos como o coração e os pulmões, onde o doador deverá estar ainda com atividade cardíaca, mesmo que ligados a aparelhos, enquanto ainda não existir um diagnóstico definido de morte, pode ser considerada em alguns casos como eutanásia, e não se recomenda que seja efetuada.
Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, afirma que a evolução do antigo diagnóstico de morte cerebral para o atual de total ausência de atividade no tronco encefálico (morte encefálica) confirma a morte do indivíduo, tornando apto a ser um doador.
Através do transplante, é possível aliviar a dor e o sofrimento do próximo, doando algo que não terá mais utilidade na vida espiritual. Deve estar claro, porém, que a intenção da doação de órgãos deve ser espontânea, em vida. Se for uma doação compulsória, sem o consentimento do doador, há o risco de o mesmo estar muito ligado à matéria e, talvez por esse apego, decorrerem sofrimentos ao espírito, bem como sequelas em seu perispírito, tratáveis na espiritualidade com o auxílio dos bons espíritos.
O doador é alguém que já está um passo além na sua evolução, desapegado do envoltório material que lhe serviu por algum tempo na terra e, como todos nós, terá o apoio da espiritualidade durante e após o seu desencarne. Constitui, além de tudo, um exemplo de fé, ao saber que superou o medo da morte, entendendo sua finalidade dentro do processo da natureza e da transição do espírito para outra etapa da vida.
Bibliografia: Dias Gloriosos, Joanna de Ângelis/ Divaldo (editora LEAL)
Saúde e Espiritismo – Associação Médico Espírita – SP
Diálogo Espírita – Junho e Julho de 2000 – FERGS
Jornal Espírita – Novembro de 1998- FEESP