Antes de tudo é necessário esclarecer: Deus é o Pai, é o Criador; a causa primária de todas as coisas. Jesus é um dos seus filhos, um entre os espíritos superiores do universo que cuidam dos mundos. Não foi Deus que veio à Terra, submeter-se a uma experiência humana, mas Jesus, um dos importantes auxiliares divinos.
Kardec afirma que “tudo acusa (…) nas palavras de Jesus, seja quando vivo, seja depois de sua morte, uma dualidade de pessoas perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento de sua inferioridade e de sua subordinação com relação ao Ser supremo”1. Objetivando deixar bem claro que Jesus sempre se referia a Deus como Pai. Kardec, na mesma obra e em estudo sobre a natureza do Cristo, analisa uma coletânea de narrativas evangélicas, que parcialmente citamos:
a) Na pergunta que ele faz aos seus discípulos a respeito da sua origem: “E vós quem dizeis que eu sou? – Tomando a palavra, Simão Pedro, falou: Tu és o Cristo, filho de Deus vivo” (Mt 16, 15-16);
b) Preparando a sua partida deste plano: “Estou ainda convosco por um pouco de tempo, e em seguida vou para Aquele que me enviou” (Jo 8, 33); “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes em mim também” (Jo 14, 1); “Ouviste o que vos disse: eu me vou, e volto a vós. Se me amais, vos alegreis de que vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu” (Jo 14, 28);
c) No momento da crucificação: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34);
d) Instantes antes da morte física: “Exclamado com voz alta disse Jesus: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46);
e) Na aparição a Maria Madalena: “Não me retenhas, porque ainda não subi para o meu Pai; mas ide procurar os meus irmãos e lhes dizei, de minha parte: eu subi para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17).
Em O Livro dos Espíritos², quando questionados sobre “Qual é o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de Guia e modelo?”, os espíritos encarregados da Codificação da Doutrina Espírita assim se pronunciaram: “Jesus”. Kardec acrescenta que “Para o homem, Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra”. Ou como disse Jesus: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Ao perceber Jesus como filho de Deus e não o próprio Deus, não estaremos diminuindo a sua grandeza. A vida é um caminhar em direção a Deus, quanto mais evoluímos mais nos aproximamos Dele. Jesus, tendo conquistado todos os degraus na escalada da evolução, em outros mundos e antes da formação do nosso planeta, atingiu a condição de espírito puro e, embora não sendo o Criador, está muito próximo dele.
Jesus não é, como muitos imaginam, criador de determinada religião. Ele é a luz do mundo, assim como o Sol não ilumina só um hemisfério, mas distribui à Terra toda seus benefícios, do mesmo modo o Pastor divino apascenta com igual carinho todas as ovelhas do seu rebanho, sem jamais constranger alguém a crer deste ou daquele modo. Procura, sim, despertar o que há de bom em cada criatura e mostra o roteiro: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga os meus passos” (Lc 9, 23-25).
Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 6.ed. Araras, SP: IDE, 1997. p. 133.
2 ____. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Questão 625.