Conforme O Evangelho Segundo o Espiritismo1 a piedade é a virtude que mais nos aproxima dos espíritos superiores. É o sentimento mais apropriado a fazer com que progridamos, domando nosso egoísmo e o orgulho. É aquele sentimento que nos torna mais humildes e nos conduz ao amor ao próximo, que nos comove diante dos sofrimentos dos nossos irmãos, e que nos impele a estender a mão para socorrê-los. Em poucas palavras: a piedade é a precursora da caridade.
A caridade nasce, principia, com o sentimento de piedade. Sem a piedade não conseguiremos ser benevolentes, indulgentes, nem perdoar. Sem a caridade não evoluímos, pois como nos ensinou Jesus: “Não basta apenas não fazer o mal, é preciso fazer o bem”.
É necessário, porém, compreender que piedade não é apego. Apego emocional tem por objetivo controlar alguém, ou amar para que a pessoa retribua nosso amor. Ele é muito instável, qualquer desavença pode transformar esse amor e interesse em ódio.
A piedade deve estar baseada no desejo de que os outros se livrem do sofrimento e estar associada a uma sensação de compromisso, responsabilidade e respeito para como o outro; sem impor condições, como agiu o bom samaritano da parábola (Lc 10,30-37), partindo do princípio de que todo ser humano tem um desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente como nós. O reconhecimento dessa igualdade entre os seres nos leva a sentir piedade independente se encaramos a pessoa como amiga ou inimiga.
A piedade não deve ser mal direcionada, ou expressa de maneira errada, de modo a transformar quem sofre num coitado, infeliz ou injustiçado, em alguém que está sendo vítima da vida e das circunstâncias. Assim, geramos apenas revolta e mágoa, pois as lamentações mais afligem que libertam.
Senti-la não é sentar ao lado do nosso próximo e chorar com ele as suas mágoas, aumentando-as; não é sentir pena ou carregar a cruz do nosso semelhante. Agindo dessa maneira tiramos dele a possibilidade do aprendizado e o mérito pelas conquistas.
A piedade deve ser expressa de forma a oferecer força, segurança, afeto, apoio, coragem, resignação e irrestrita confiança em Deus, para que o aflito, por si próprio supere suas dores transformando o sofrimento em aprendizado.
Cleto Brutes
(1Capítulo XIII. Item 17)