A cada um segundo as suas obras. Jesus (Mt 16,27)
A vida em todos os aspectos, seja material ou moral, está orientada para a evolução contínua. No entanto, as leis que disciplinam a vida estabelecem um preço ou um ônus para que o progresso ocorra.
A conquista da evolução espiritual se dá através dos milênios, em reencarnações sucessivas, quando o Espírito é submetido as mais variadas experiências, objetivando a conquista da sabedoria e da moralidade necessárias até obter a condição de Espírito puro, a meta de todos.
Esse amadurecimento espiritual se dá de conformidade com os esforços de cada um. Em cada nova etapa ou fase da vida imortal o Espírito está diante de desafios cada vez maiores, sempre na medida das suas condições e merecimento. “Não há bônus sem ônus” conforme ensina um Provérbio Latino. Para ganhar é necessário oferecer algo de si ou deixar algo para trás.
Ao reencarnar recebe o bônus de uma nova oportunidade de aprendizado e evolução. Para isso o Espírito abdica da plenitude das faculdades que usufrui na espiritualidade, pois a experiência no corpo restringe o seu campo de atuação.
Para nascer, o bebê deixa o confortável e seguro habitat que gozava no ventre da mãe. Mais adiante abdica a condição de criança para ser jovem e da juventude para se tornar adulto. Quando casa abre mão do lar dos pais para poder construir a sua própria família.
Para se tornar um excelente profissional são necessários anos de estudos em que se verá privado de horas de lazer e de convívio familiar. Uma família harmonizada exigirá tempo, paciência, compreensão e muita doação dos seus membros. A saúde física e mental exigirá cuidados e renúncias. E assim, sucessivamente, estará diante de perdas necessárias para progredir.
No final da existência, deixa aqui, os bens que usufruiu, a companhia dos afetos e tantas coisas que construiu, até o próprio corpo, para retornar à condição de Espírito livre.
Todas as conquistas não se darão sem lutas e sem que tenhamos que abrir mão de algo. No entanto, a Bondade Divina é imensa e permite que os ganhos sejam sempre superiores aos esforços necessários, possibilitando a motivação necessária para os que acordaram para esta máxima.
Outra questão fundamental a ser compreendida, está em um diálogo de Jesus1 falando diretamente ao apóstolo Tiago: Não devemos pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que recompensa, sim no Pai que aperfeiçoa. Os ganhos, através do trabalho persistente e da renovação contínua, são os tesouros da alma que não se destroem com a ação do tempo.
Sem esse entendimento fica difícil enfrentar a vida com seus naturais desafios. Quando imaginamos que passaremos pela vida sem atitudes nobres, querendo que a vida nos dê o que não fizemos por merecer ou imaginando que a felicidade está na contemplação ociosa, muito provavelmente seremos visitados pela frustração ou pelo vazio existencial.
Necessário seguir a proposta do Cristo, que nunca cessa de trabalhar em nosso benefício, fazendo aos outros tudo o que queremos que os outros nos façam, para que o fardo seja leve e os benefícios, já nesta vida, infindáveis.
Cleto Brutes
1XAVIER, Francisco Cândido. Livro Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 30. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. cap. 6.