Leitura

A leitura – ação pela qual nos inteiramos do conteúdo de um texto – pode ser feita em vários níveis.

Há sensível diferença entre ler assimilando apenas informações e conceitos e ler com atitude crítica, analisando, tirando conclusões, percebendo pontos-de-vista e objetivos do autor. Pode-se mesmo ir além do texto, levando em conta fatores como época e o meio em que ele foi escrito, considerando-se também outras produções do mesmo autor, obtendo-se, dessa forma, uma visão ainda mais profunda da obra em exame.

Por isso a afirmativa frequente na linguagem moderna “estamos fazendo uma nova leitura” de tal livro ou tal episódio, não significa que estejamos simplesmente lendo mais uma vez o livro ou recordando tudo o que já se disse acerca do episódio, mas sim que, devido a novas informações, a uma compreensão melhor do que ocorria quando o fato se deu ou o livro foi escrito, estando tendo dele agora uma visão diferente, mais profunda.

É muito comum a primeira forma de leitura, passiva, a qual pode nos levar à aceitação, por vezes perigosa, de conceitos e modelos que nos são propostos, sobretudo através dos meios de comunicação de massa. A Doutrina Espírita contém um incisivo alerta quanto a essa atitude, convidando ao exame e à reflexão acerca de tudo o que nos chega propondo, ao mesmo tempo, que as consideramos ideias e ocorrências, tenhamos também presente sua dimensão espiritual, que sempre existe, embora não seja sequer cogitada pela grande maioria.

Essa consciência quanto à realidade espiritual foi enfatizada desde a Codificação Espírita como, por exemplo, nas passagens seguintes: “A medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais”1. “Aquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem altas posições como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha e, logo, bem pequenos lhe parecerão homens e coisas.”2

“É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto-de-vista da vida futura: a Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe, então, que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas em um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco elevará e que por tão pouco tempo conservarão.”2

Que possamos, pois, ao examinar textos e acontecimentos, compreendê-los melhor, para entender a própria vida, “lendo-a em termos da realidade espiritual.”

Antonio Augusto Chaves do Nascimento
1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 89 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. questão 914. 2KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 99 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988. cap. II. item 5.