O sentimento de justiça é tão natural que não há criatura que não se revolte quando entende que acontece algo injusto. O que difere nos homens é o entendimento do que é justo ou injusto porque, a este sentimento inato, deixam envolver-se pelas paixões que desnaturam o anseio de justiça, comprometendo os próprios julgamentos.
Quanto mais evoluído moralmente o ser, mais próximo da verdadeira justiça ele se encontra.
Aquele que tem fome e sede de justiça será saciado, conforme afirmou o Mestre, porque a sua busca decorre em, primeiramente, ser justo, aspirando assim a ajustar-se à lei divina, compreendendo-a como perfeitamente sábia e equânime.
A felicidade do homem não decorre em não receber injustiças, mas em praticar a virtude de ser justo porque, ao não comprometer-se com a iniquidade, identifica-se com a consciência tranquila e a harmonia interior, propiciadora de paz e felicidade (bem-aventurança). Se for alvo de injustiça, não se sente triste ou revoltado; busca o natural direito nas leis humanas, mas entende que perante as leis divinas está resgatando equívocos pretéritos ou sendo provado na confiança em Deus.
O que é justiça?
– Como se pode definir a justiça? (O Livro dos Espíritos, questão 875)
“A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.”
No atual estágio evolutivo, os direitos estabelecidos pela justiça humana nem sempre estão de acordo com a Justiça, na acepção mais pura desta palavra, apesar de cada vez mais aproximar-se desta. Quando se tem dúvida sobre a própria ação, deve-se lembrar da máxima do Cristo: Desejais para os outros o que quereríes para vós mesmos, estando, desta forma, no íntimo de cada um a regra de toda a verdadeira justiça, porque, naturalmente, todos querem ver respeitados seus direitos. A justiça plena só existe quando existe amor e caridade, portanto, no caminho da justiça, a misericórdia é o sentimento nobre que a eleva à máxima potência. Sempre que houver ódio e rancor na busca da justiça, realmente o que se deseja é a vingança e o sofrimento do transgressor. É próprio das almas elevadas colocarem-se acima do mal e, não sendo conivente com ele, buscar a reparação dos danos que ele provoca, e, acima de tudo, desejar a educação do infrator, e não o seu sofrimento.
Deus criou o Universo e os seres que o habitam para o aprendizado do amor e para isso instituiu uma legislação perfeitamente sábia e justa. Sobretudo, age sobre cada criatura com misericórdia e amor, jamais condenando qualquer ser às penas e sofrimentos eternos, seja qual for o crime que tenha cometido.
Ninguém fica impune aos próprios erros e todos terão oportunidade de repará-los nesta ou em existências posteriores. A reencarnação é a misericórdia divina a oportunizar o indivíduo à evolução e, sem ela, não entenderíamos a Justiça Divina.
É Francisco Xavier, inspirado por Emmanuel quem diz: “Quando temos dívidas na retaguarda, mas continuamos trabalhando a serviço do próximo, a misericórdia divina manda adiar a execução da sentença de resgate, até que os méritos do devedor possam ser computados em seu benefício.” (no livro Chico de Francisco, de Adelino da Silveira, Ed CEU)
Simeão, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulo X, item 14) convida: “Espíritas, jamais vos esqueceis de que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizei ser espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não pensais senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de todo o sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo.” (grifo nosso)
Luis Roberto Scholl