Vivemos em um mundo onde as diferentes crenças, valores, raças e culturas estão presentes no cenário cotidiano. Isso ocorre porque, individualmente, somos seres únicos com uma história de conquistas, convivendo num estágio evolutivo diferenciado. Por essa razão cada um está inserido naquele contexto que melhor se ajusta às suas necessidades de aprendizado e evolução, a fim de que, vivendo em sociedade, em contato com as diferenças e os diferentes adquira as virtudes da paciência, da calma, da serenidade …
No entanto, nem sempre progredimos através do contato com a diferença do qual o outro é portador. Pelo desconhecimento do sentido da existência e pela falta de habilidade para conviver com a diversidade surgem a indiferença, a falta de solidariedade e os conflitos.
Para viver bem com o nosso semelhante é necessário que primeiro saibamos conviver conosco. Por isso o tão propalado autoconhecimento. Saber, através da vigilância e da oração, como realmente somos, quais os pontos fortes e fracos e, principalmente, como reagimos diante dos conflitos, quando somos contrariados ou quando nos frustramos.
À medida que vamos nos conhecendo teremos pela frente uma outra tarefa muito importante: aprender a lidar com a nossa realidade íntima, saber como administrar pensamentos, sentimentos, emoções e atitudes que precisam ser modificados.
No contato com esse universo interior, pouco conhecido, necessitamos estar munidos de paciência, tolerância, bondade e acima de tudo de perdão, para entender que o problema não está no que sentimos: raiva, tristeza, decepções e preocupações, mas na forma como as vivenciamos. Importante perceber que cada sentimento ou emoção nos traz um aprendizado ou nos possibilitam elaborar melhor o que estamos passando. O que não podemos permitir é que esses sentimentos nos conduzam.
Por isso precisamos mudar de atitude. Embora seja uma tarefa urgente e necessária, não será fácil, pois o processo de mudança poderá proporcionar uma aparente e momentânea instabilidade interior. É o choque de posturas, valores e conceitos novos com as práticas antigas, muitas vezes arraigadas por séculos afora.
A meditação, o estudo e o auto-estudo, a oração e as boas ações são ferramentas que vão nos ajudar a nos tornarmos mais humanizados. Será um processo longo, gradativo e sem pressa, mas com constância, persistência e sem aflições, caso os erros antigos tornem a se repetir, pois errar ainda faz parte do nosso aprendizado.
A meta é estabelecer uma relação de paz com a nossa história, aceitando de forma resignada aquelas condições que nos parecem desfavoráveis, compreendendo que a vida sempre nos oferece os melhores recursos que necessitamos para cumprir com o projeto de vida que escolhemos.
A partir dessa conquista precisamos aprender a conviver com os outros. Um recurso que poderá nos ajudar é a empatia (a chave para os relacionamentos exitosos), que é a capacidade de nos vermos, nos sentirmos ou nos colocarmos na condição do outro. Na dúvida, nos perguntemos: se fossemos nós (ou um familiar, um amigo ou alguém muito querido) como gostaríamos que agissem conosco?
Essa proposta foi apresentada por Jesus: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós1, como a expressão máxima da caridade, pois resume todos os nossos deveres para com o próximo. Seguindo esse roteiro deixado pelo Cristo, viveremos em harmonia conosco e com os companheiros de jornada, permitindo que os diferentes e as diferenças sejam instrumentos de progresso e não de conflito. O que nos consola é que a boa convivência é algo que podemos aprender, independente da nossa condição econômica, intelectual ou da fase da vida em que nos encontramos.
Cleto Brutes
1KARDE, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. Item 4.