Vícios e as companhias espirituais (Os)

Fumante há duas décadas, Gerci sofria agora as conseqüências do seu vício: dificuldades respiratórias, fraqueza física, falta de apetite. Seu irmão Neri e a cunhada Lídia, preocupados com a sua debilidade, convidaram-na para morar com eles. Era uma boa chance de tirá-la da solidão e poder ajudá-la.

Sabendo que os problemas físicos de Gerci se concentravam no hábito do fumo, o irmão e a cunhada empenharam-se em demovê-la do vício, esclarecendo que, desistindo do cigarro, ela poderia voltar a ter uma vida normal e com saúde. Quanto mais eles tentavam convencê-la dos benefícios, mais irritada e arredia aos bons conselhos ela ficava.

Certa vez Lídia, que esporadicamente tinha o dom da vidência, viu ao lado de Gerci, o Espírito de um homem em todos os detalhes: vestimenta campeira, baixa estatura, no braço direito um chapéu de barbicacho, no braço esquerdo um pelego apoiado, que, inclusive, faltava um pedaço. Intuitivamente, Lídia entendeu que deste Espírito vinham vibrações negativas que influenciavam a cunhada para não desistir de fumar. Esta era a forma que este Espírito encontrou para sustentar o seu vício, mesmo na espiritualidade: enquanto Gerci “tragava” a fumaça do cigarro, ele aspirava os “vapores” do tabaco e assim, em “parceria” ambos se locupletavam no vício.

Convencidos que somente conseguiriam ajudar Gerci, ajudando também ao Espírito influenciador, procuraram um amigo conhecedor do Espiritismo em busca de auxílio e informação de como deveriam proceder. Seu José, pessoa humilde e bondosa, estudante da Doutrina Espírita, esclareceu que, além do esforço inadiável de Gerci em deixar o cigarro, modificando pensamentos e atitudes, a forma mais correta e eficaz para solucionar o problema era conversar com o Espírito, procurando demovê-lo da influência perniciosa que fazia sobre ela, esclarecendo que assim, ambos estavam sendo prejudicados e que, desta forma, ele estava inclusive adiando a sua própria felicidade e evolução. Durante os diálogos com o Espírito, este informou que, enquanto a sua vítima acendia um cigarro, ele estendia o pelego no chão, deitava e se deixava impregnar pelas “baforadas” da fumante.

Foram necessários vários encontros para convencê-lo que esta atitude trazia muita infelicidade a ele, dificultando inclusive o encontro com seus entes queridos no plano espiritual até que, finalmente, convencido, prometeu deixá-la permitindo ser ajudado pelos Espíritos Superiores. Gerci, enquanto isto, era também alertada a educar seus pensamentos e vontades, procurando desta forma desvencilhar-se das influenciações negativas.

Algum tempo depois, com muita força de vontade, realmente Gerci abandonou o vício do cigarro, de tal forma que, certa vez, quando um visitante passou pela sua casa e estava fumando, apenas com a aproximação dele, ela sentiu náuseas, tendo que se refugiar no banheiro para não desfalecer: “Não posso mais nem com o cheiro do cigarro” – explicou depois. Viveu ainda muitas décadas com boa saúde vindo a desencarnar, já idosa, por causas naturais.

Esta história verídica, narrada pela cunhada, retrata com fidelidade como se constituem as companhias espirituais daqueles que se deixam envolver por vícios físicos (tabaco, álcool, drogas…) ou morais (maledicência, jogo, preguiça…) e como esta influência pode se tornar perniciosa se o indivíduo permitir.

Para abandonar o vício é necessário, portanto, além da boa vontade e esforço, o apoio dos familiares, de cuidadores especializados (médicos, psicólogos), aliados à terapêutica espírita (estudo, passes, desobsessão, preces…).

Luis Roberto Scholl