Umbral (O)

A palavra umbral não consta em nenhuma das obras básicas da codificação espírita publicadas por Allan Kardec. É uma denominação que ficou conhecida a partir das obras de André Luiz, através de Francisco Cândido Xavier, no livro Nosso Lar1 – primeiro de uma longa parceria entre o Espírito e o médium que renderam mais de uma dezena de livros que relatam a vida no mundo espiritual – publicado na primavera de 1943, e que se encontra de pleno acordo com os conceitos básicos do Espiritismo.

O que é Umbral? O significado primário do termo, de etimologia espanhola, é o nome da pedra que se coloca na parte de baixo de uma porta. Nas construções antigas, e ainda hoje, costuma-se colocar uma pedra, com a mesma largura da porta para funcionar no nível do piso como demarcação de separação entre os dois ambientes. Em português, essa pedra também pode ser chamada de umbreira ou soleira, mas o local que ela ocupa – ou seja, a passagem entre dois ambientes – é chamado de umbral. O dicionário Houaiss notifica a derivação por extensão de sentido “local de entrada para um interior; limiar” E dá como exemplo a frase: “O porto é o umbral da cidade.” Dessa forma, a palavra também tem o sentido conotativo de “entrada”.2

Umbral no conceito Espírita. Quando André Luiz utiliza este termo está denominando não um local específico e único na dimensão espiritual, mas regiões existentes na espiritualidade que servem de passagem, de entrada para os Espíritos ainda muito materializados e imperfeitos que necessitam um processo de “depuração” temporária para seguir a jornada evolutiva.

No livro Memórias de um Suicida há uma nota do instrutor espiritual: Após a morte, antes que o Espírito se oriente, gravitando para o verdadeiro “lar espiritual” que lhe cabe, será sempre necessário o estágio numa “antecâmara”, numa região cuja densidade e aflitivas configurações locais corresponderão aos estados vibratórios e mentais do recém-desencarnado. Aí se deterá até que seja naturalmente “desanimalizado”, isto é, que se desfaça dos fluidos e forças vitais de que são impregnados todos os corpos materiais. Por aí se verá que a estada será temporária nesse umbral do Além, conquanto geralmente penosa. Tais sejam o caráter, as ações praticadas, o gênero de vida, o gênero de morte que teve a entidade desencarnada – tais serão o tempo e a penúria no local descrito. Existem aqueles que aí apenas se demoram algumas horas. Outros levarão meses, anos consecutivos, voltando à reencarnação sem atingirem a Espiritualidade.3

Mais adiante acrescenta o Espírito benfeitor: Efetivamente, no além-túmulo, as vibrações mentais longamente viciadas do alcoólatra, do sensual, do cocainômano, etc., poderão criar e manter visões e ambientes nefastos, pervertidos. Se, além do mais, trazem os desequilíbrios de um suicídio, a situação poderá atingir proporções Inconcebíveis.

Vários médiuns de abonada responsabilidade confirmam, através da informação mediúnica, a necessidade de muitos Espíritos, após o desenlace do corpo físico, passarem por este estágio no mundo espiritual, podendo ele ser mais ou menos penoso, de maior ou menor duração dependendo da conduta moral do ser aqui na vida material e também na vida espiritual. A necessidade é o próprio Espírito quem cria. Alguns atravessam este “portal” quase sem nenhuma impressão penosa. Estes, porém, mais evoluídos moralmente, não são a maioria, pois grande parte necessita esgotar a vitalidade animal latente e dar início ao processo de depuração das viciações físicas e morais neste ambiente, dependendo do caso, em situações extremamente penosas.

A mente edifica e produz. O pensamento – já bastante vezes declararam – é criador, e, portanto, fabrica, corporifica, retém imagens por si mesmo engendradas, realiza, segura o que passou e, com poderosas garras, conserva-o presente até quando desejar! Através das palavras de Camilo3 entendemos que o céu, o inferno e o umbral são o resultado das criações mentais dos seres, que se materializam e atraem para si outros seres que vibram na mesma sintonia. Para muitos, o umbral já é aqui na Terra porque se deixam levar pelo desespero e pela revolta, pelo apego às coisas e prazeres materiais, pelo ódio e desejo de vingança, pelo ciúme e pela inveja, transformando a sua própria vida em tormentos notoriamente voluntários. A paciência, a tolerância e a resignação; a caridade, a benevolência e o amor ao próximo, ao contrário, criam verdadeiros estados serenos de consciência que o indivíduo se sente em verdadeiro céu de felicidade.

O umbral, ou nome que queiramos dar a este estado conscencial, não é o inferno eterno e nem é o local de castigo de Deus. São ambientes amplamente amparados pelos Espíritos benfeitores que auxiliam e resgatam os necessitados, dependendo do merecimento, da condição de arrependimento e da vontade do indivíduo de querer se aperfeiçoar.

Muitos Espíritos não precisam passar pelo Umbral, pois a conduta reta e a consciência tranquila são o passaporte seguro para que a passagem seja serena e a chegada na Vida Maior seja harmoniosa, sendo recebidos pelos amigos, familiares e benfeitores como o viajante que retorna vitorioso de sua empreitada.

Luis Roberto Scholl
1XAVIER, Francisco C. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. Rio de Janeiro:FEB, 1996.
2Wikipédia
3PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um Suicida. Pelo Espírito Camilo Cândido Botelho. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982.