Um olhar sobre a solidão

  “Ninguém escolheria uma existência sem amigos, mesmo que fossem oferecidas todas as outras coisas do mundo”. Aristóteles

Para Thomas Wolff, a solidão é uma experiência fundamental e inevitável a todo ser humano. Sentir solidão em determinados momentos da vida faz parte do desenvolvimento emocional de cada um. É o período necessário para auto-avaliação e autoconhecimento, sem o qual o ser dificilmente conseguirá reconhecer-se como individualidade.

Jesus, além dos 40 dias no deserto, como cita o Evangelho, utilizou-se desse recurso em vários momentos para meditar.

No entanto, a solidão se torna patológica quando provoca perturbações no indivíduo e vira uma rotina constante para as “fugas do mundo”. Quando se é incapaz de compartilhar a essência do que se é com outra pessoa, normalmente se busca o isolamento pernicioso que pode levar a diversos estados depressivos, de ansiedade ou de angústia.

Ao identificá-la como negativa, deve-se buscar recursos que sirvam para superá-la. Inicialmente, é necessário conhecer-se, entrar no “santuário interior” e distinguir as próprias potencialidades. A tomada de consciência de si, como ser único e especial, sem igual no mundo, leva a pessoa a descobrir o seu papel no Universo. Depois dessa conscientização, procurar a multidão para trocar com o outro experiências, sentimentos e sonhos.

Transcender a solidão é avançar em direção à conexão, à união, ao amor. Não é meramente um exercício de realização pessoal, é a meta da existência humana.

Importante é diferenciar estar sozinho e solidão. É possível estar sozinho e encontrar-se muito bem consigo mesmo e não se sentir solitário. Porém, pode-se estar em meio à multidão, e em solidão. Portanto, não sentir solidão não depende de fatores externos, mas de um bem estar interior, de satisfação consigo próprio.

Conta a lenda que um apaixonado jogador de golfe, mas também um homem devoto à sua religião estava diante de um dilema: era um dia santo, consagrado ao culto, mas também era um dia maravilhoso para jogar. Aonde ele iria? Ao louvor a Deus? Ou ao clube? Decidiu pelo segundo. Deu um jeito de a família ir ao templo e escapuliu para o campo de golfe. O dia estava perfeito: gramado lindo, o clima apropriado e, o que era melhor, ninguém para atrapalhá-lo. Os anjos olhando aquilo do alto acharam uma afronta contra Deus, e pediram punição para o “pecador”. Deus mandou que observassem… O jogador se arrumou para a primeira tacada. A jogada foi tão perfeita que a bola atingiu o buraco almejado no lance inicial, algo jamais conseguido por ele. Os anjos ficaram furiosos: como pôde, Deus, para puni-lo, permitir esta jogada genial? Foi então que Deus disse: – Esperem mais um pouco! E eles observaram o golfista parar, esboçar uma intensa comemoração, mas, olhando ao seu redor, viu-se sozinho, ninguém para comemorar sua vitória, dividir sua alegria. Fora como se não tivesse acontecido! Esta era a sua pena.

As alegrias e vitórias solitárias, cujo único beneficiado é o próprio vencedor, não são consideradas nem alegrias, nem vitórias, se não compartilhadas com o outro. É por isso que, em um mundo ainda tão cheio de dores, misérias e tristezas, é impossível para o ser humano ser completamente feliz. As conquistas só trarão a plena felicidade quando compartilhada por toda humanidade. E isso é algo para as futuras gerações, talvez no próprio planeta Terra, quando já em estágio de mundo de regeneração.

Superar a solidão significa ser solidário, compartilhar as dores e as alegrias, auxiliar o mais necessitado, tanto de carinho, como de alimento, abdicar do egoísmo e ultrapassar as próprias dificuldades em nome do amor.

Luis Roberto Scholl