Solidão

 A música de Milton Nascimento e Fernando Brand “Canção da América”, nos recomenda: “amigo é coisa pra se guardar, no lado esquerdo do peito…” A maioria de nós sabe o valor da amizade: como é bom poder contar com alguém na hora da dor, da dificuldade ou da alegria; e como é difícil enfrentar os momentos difíceis sozinho, sem ter com quem dividir nossas preocupações.

            Pesquisadores de diversas universidades (Rev. Isto É, 10/03/99), realizaram estudos sobre a importância da amizade e concluíram (Receita-se um Amigo) que, o fato de se ter alguém do lado com quem se possa contar, ajuda a controlar a pressão arterial, contribui para proteger os vasos sanguíneos de lesões, equilibra os batimentos cardíacos, auxilia no tratamento da depressão, entre outros benefícios. Isso porque amigo é emoção e os sentimentos estão cada vez mais aceitos como participantes na manutenção da saúde e na instalação das doenças, tendo em vista a interferência do fator mental no fortalecimento ou enfraquecimento do nosso sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo.

            Em O Livro dos Espíritos, capítulo VIII, 3ª parte, na Lei de Sociedade, esclarece-nos que a vida social está na natureza. Somos seres únicos, individualidades, que precisamos do contato humano, viver em grupos, enriquecendo com valores e experiências uns dos outros. É nas trocas, nos atritos, que cada ser cresce, burila-se, aprende a conviver, trabalha o orgulho e o egoísmo e experimenta a caridade.

            O isolamento é contrário a lei natural. Na questão 769 (LE), entendemos que aquele que vive isolado é egoísta e perde oportunidade de servir, auxiliar, progredir e evoluir.

            Sendo a interação uma necessidade, porque tantos experimentam a solidão? Porque não conseguem estabelecer vínculos afetivos? Se observarmos a realidade, veremos muitos casos de depressão e suicídios influenciados ou causados pela solidão.

            Vivemos em um mundo ainda muito individualista, onde as pessoas interessam-se muito pelo seu bem estar, gerando a indiferença. Pela competição, querer ser o melhor, provoca o desprezo ao próximo, vendo-o não como um companheiro, mas como um adversário, alguém que poderá tirar o nosso lugar. Esse individualismo contraria a nossa natureza gregária, gera a solidão, a sensação de isolamento e melancolia.

            Muitos experimentam a solidão por causa do orgulho e do egoísmo, achando-se superiores, pensando que ninguém é digno de relacionar-se com ela. Os preconceituosos escolhem suas amizades pelas conveniências, pela posição social, pelas vantagens que podem obter, porém na hora da dificuldade, da doença, da dor, das perdas econômicas, da velhice, vêem-se a sós, porque os amigos, que não eram verdadeiros, afastam-se deixando-os à solidão.

            A vida moderna, com o avanço tecnológico, trouxe conforto e facilidades, mas também proporciona o isolamento das pessoas, a perda de contato, levando-as a uma vida rotineira e mecânica. É possível comprar, sem sair de casa, pelas tele-entregas, conversar pela Internet, sem o contato humano. Os vizinhos não se conhecem. Dentro do lar, o diálogo é substituído pela televisão, pela agenda lotada de compromissos. Assim, as pessoas acabam solitárias pela falta de contato humano, de afetividades, de trocas.

            Muitos experimentam a solidão como forma de resgates. Fruto da Lei de Causa e Efeito, criaturas que no passado prejudicaram, desprezaram, magoaram, podem experimentar a ingratidão, a infidelidade dos amigos, a fim de aprender a valorizar a presença do outro em sua vida.

            O remédio para a solidão, qualquer que seja a sua causa, é a Solidariedade. É sair de si em busca do outro. Quem é solidário, nunca se sente solitário. Há sempre alguém em situação pior que a nossa, necessitando de ajuda, de uma palavra amiga, de uma visita, de uma pessoa que o escute.

            O ano de 2001 foi intitulado Ano Internacional do Voluntariado. Há muitas iniciativas de auxílio ao próximo, nas quais podemos nos engajar, que nos auxiliarão a exercitar o amor, a doação, que farão sentirmo-nos úteis e importantes, dando sentido à vida.

            Joanna de Ângelis, no livro O Homem Integral, orienta-nos: “A fé no futuro, a luta por conseguir paz íntima eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.”

            Não nos isolemos. Procuremos aliviar as dores do próximo, cultivemos as verdadeiras amizades, saindo, então, da concha do egoísmo. Assim, veremos que os maiores beneficiados seremos nós mesmos, não havendo mais espaço para a solidão.