Serviço do Mestre (A)

E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo…”
Mt. 14, 29-30.

            No Livro Seara Bendita, o Espírito Francisco de Paula Vítor nos oferece profundas reflexões acerca da passagem acima: “O barco de Pedro, que é também o de todos nós em crescimento e ascensão moral, é o recurso justo e necessário para a navegação segura. Contudo, Jesus chama-nos à ação incomum de andar ‘sobre as águas’ como a declarar que os obreiros do reino de amor serão convidados a servir para além das linhas do dever e das facilidades. Nessa ótica, o barco pode significar as facilidades, a inteligência, o destaque e tudo aquilo que embora sejam conquistas justas, passa a constituir mordomias frente aos testemunhos sacrificiais que o Mestre espera, na obra de construção dos tempos novos, na implantação da paz tão desejada pela humanidade.” 1

Nesse contexto, cabe-nos a indagação de como nos dispomos a servir nas lides espíritas: nosso propósito de servir condiciona-se à saúde física, ao tempo disponível, ao destaque dos cargos, à conveniência pessoal? Estamos dispostos a servir à causa do Mestre, ou apenas à Casa Espírita, se tivermos uma boa estrutura já formada e o apoio de familiares e amigos? Desejamos servir ou apenas executar este ou aquele trabalho que mais nos agrada? Somos nós que servimos à causa espírita ou ela que nos serve? Nossa proposta é trabalhar pela causa espírita e pela nossa reforma moral com restrições e condições ou independente das dificuldades?

Importante compreendermos que o serviço no bem exige dedicação, abnegação e, muitas vezes, sacrifício. Por isso, a certeza do dever assumido na Espiritualidade deve nortear a vontade de servir do discípulo de Jesus. Lembremos que muitos são chamados, mas poucos escolhem servir a Jesus, incondicionalmente.

“Qualquer testemunho pelo idealismo passa pela fé íntima e resoluta. Ela, e somente ela, será a força interior de que carecemos nos passos sobre o mar tempestuoso das nossas lutas. Ante isso, nos instantes em que formos ao encontro das ‘águas provacionais’, mantenhamos fidelidade aos alvitres da vida sem temor, porque Jesus jamais nos chamaria ao mar a fim de que naufragássemos em renúncias que não podemos suportar. Guardemos a certeza de que os serviços redentores do Espiritismo, nos rumos da restauração do Cristianismo, só terão validade na medida em que aceitarmos a convocação Divina para servir sem condições. Aguardar o barco das facilidades é ainda demonstrar que não conhecemos a profundidade da proposta. (…) Arregimentemos nossa coragem e assumamos os desafios a que somos convocados, guardando no coração a certeza de que, penetrando em direção ao mar desconhecido das novas experiências, estaremos candidatando-nos a tornarmos os proprietários da própria paz.” 2

1-2OLIVEIRA, Maria José C. Soares e OLIVEIRA, Wanderley Soares. Seara Bendita. Por diversos Espíritos. 2. ed. Belo Horizonte, MG: INEDE, 2003. p. 217 – 219.