Será preciso ver para crer?

“Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo. 20, 24-29).
“E estes sinais seguirão aos que crerem; em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas” (Mc. 16, 17).    Jesus.

            Gradativamente, ideias como a imortalidade da alma, sua sobrevivência e preexistência ao corpo físico e o intercâmbio com o mundo espiritual passarão a fazer parte das concepções religiosas das pessoas. No entanto, ainda por um longo tempo, muitos estarão na busca de alguma prova material para solidificar essas idéias novas. O ver para crer, o fenômeno, ainda será cogitado.

A fé na vida após a morte, assim como na existência de Deus, são conquistas que se constroem no mundo íntimo. É preciso ver, sim, mas com os olhos da alma. Quando aprendemos a sentir a vida que pulsa, a natureza que desperta e a Providência Divina que age incessantemente sobre nós, os sinais exteriores não serão mais necessários. Antes de objetar sobre o mundo invisível, será necessário descobrir o nosso mundo íntimo para perceber como agimos e reagimos.

A crença na Doutrina dos Espíritos é algo que se conquista com tempo e persistência. Primeiramente pelo estudo dos seus princípios. Para estudar não basta apenas ler, mas investigar, pesquisar e meditar sobre cada idéia. O contato com os ensinos Espíritas deverá estar acompanhado da mudança de postura perante a vida. É a etapa da internalização do Consolador Prometido (Jo. 14, 15-26) nos pensamentos, sentimentos e ações, pois como nos ensina Vinícius1“Ninguém saberá o que significa amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal enquanto não escoimar o seu interior de toda a odiosidade, de todo o sentimento de rancor”.

Logo depois virá a motivação para o trabalho na seara do Cristo. Agindo no bem, aos poucos, o nosso modo de ver a vida e de encarar os acontecimentos vai se modificando. A fé começa a ter uma base sólida: são as obras. Com o tempo, as nossas preces passarão a ter um outro significado. Será um momento de entrega onde vamos começar a sentir que as palavras que pronunciamos ou mentalizamos produzem vibrações que envolvem as nossas almas. É Deus pulsando em nós. Desse modo vamos aprender a ouvir a voz que brota do imo do nosso ser e será um prelúdio de que estamos sentindo Deus que se manifesta através das suas sublimas Leis, que estão gravadas na nossa consciência. Para isso não precisamos vê-lo, apenas senti-lo.

Analogamente acontecerá com os espíritos amigos, enviados de Deus para nos auxiliar e nos sustentar nas nossas lutas. Não precisamos vê-los, nem de provas materiais da existência do mundo invisível para aprender a sentir essa benéfica influência que ocorre em nossas vidas. Que está acessível a todos aqueles que, já despojados do egoísmo, se dispõem a amar, a perdoar, a exercitar a caridade. Mas, quando escolhemos caminhos opostos, criamos uma barreira instransponível e nos tornamos refratários a essa ação benfazeja. Mesmo vivendo distanciados da Lei de Amor, muitos ainda pensam que Deus os esqueceu. Ouvindo seus conselhos e seus alertas, pelos sutis canais da intuição, teremos as respostas que buscamos, sem que os espíritos se tornem visíveis, pelo fenômeno chamado de materialização, pois como ensina Emmanuel2“Sinais do reino dos Espíritos seguirão os que crerem, afirma o Cristo. (…) Os que crêem, contudo, e aceitam as determinações de serviço que fluem do Alto, serão seguidos pelas notas reveladoras da imortalidade, onde estiverem. Em nome do Senhor, emitindo vibrações santificantes, expulsarão a treva e a maldade, e serão facilmente conhecidos, entre os homens espantados, porque falarão sempre na linguagem nova do sacrifício e da paz, da renúncia e do amor.”

Cleto Brutes
1VINÍCIUS. Em Torno do Mestre. 6. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1991. p. 207.
2XAVIER, F. Cândido. Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2004. p. 360.