Reflexões em torno da fatalidade

Limites do livre-arbítrio
O homem é, na sua origem, criado por Deus simples e ignorante, no sentido de não ter o conhecimento de todas as coisas, para que através das múltiplas encarnações e na medida dos seus esforços, vá conquistando a sabedoria e o amor até chegar à perfeição, destino de todos.
No princípio Deus supre pelo determinismo a incapacidade do Espírito de escolher, como fazemos com as crianças relativamente às situações que não estão aptas a solucionar sozinhas. À medida que vai evoluindo, proporcionalmente ao progresso conquistado, terá a liberdade de fazer escolhas para que os méritos também lhe pertençam. Quanto mais se eleva em moralidade e responsabilidade, maior será o seu direito de escolha. Por isso, enquanto não atingir a perfeição estará também sujeito ao determinismo relativamente às questões que ainda não sabe discernir.

Liberdade plena
Se na questão material há certos limites, isso não ocorre em relação à questão moral, pois sempre está ao seu alcance escolher como enfrentar cada situação. Poderá revoltar-se ou se resignar, ceder ou não às influências negativas do meio, ser governado pelos instintos e imperfeições ou pela consciência, o seu guia infalível. No entanto, é pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves.

A fatalidade existe?
O ato de reencarnar e o de morrer são as únicas experiências que não se pode evitar, porque, pela lei de evolução, somente através das múltiplas existências o ser humano atingirá a perfeição. Mas, pelas suas obras, pode amenizar as dificuldades que advirão desses momentos. Na medida em que efetua as escolhas, pela lei de causa e efeito, estará sujeito às conseqüências dessas escolhas. Então podemos afirmar que a fatalidade ou determinismo existe unicamente em relação às escolhas feitas.
A fatalidade, como vulgarmente é entendida, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os sucessos da vida, qualquer que seja a importância deles. Se tal fosse a ordem das coisas, homem seria qual máquina sem vontade. 

O mal
A existência do mal é fruto das escolhas do indivíduo, sendo necessário para que o homem, superando-o e sabendo distinguir entre o certo e o errado, atinja o bem. Quanto mais progride, menor será a probabilidade de errar. Jesus, o ser mais perfeito que a Terra já conheceu, estava acima do erro, por isso venceu todas as tentações e obstáculos da sua jornada terrena sem falhar.

Sucesso e fracasso
Sorte ou azar são conseqüências do que construímos para nós mesmos. Ninguém responderá pelo que não fez, bem como, ninguém será recompensado com o que não merece. No entanto, muitos ainda acusam o destino ou a má sorte para fugir da responsabilidade dos seus fracassos. Com a prudência e o cuidado necessários nas escolhas, o homem não precisaria passar pela maior parte das dificuldades com que se depara.
A vida está organizada por leis imutáveis e infalíveis, sempre para nos favorecer. Uma estrutura de proteção, sob o comando do Criador está operando para que todos atinjam a meta final. Por ignorância ou rebeldia o homem se envolve em problemas que poderiam ser evitados. Com poucos esforços poderá superar as más tendências e vencer todos os obstáculos, criteriosamente colocados na estrada da evolução para o seu próprio bem.

Cleto Brutes
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1995. Questões 843 a 872.