Questão Espiritual dos Animais (A)

No texto anterior (Seara Espírita nº 125) comprovamos a existência, no animal, de um princípio inteligente e que sobrevive à morte biológica. Partindo dessa premissa, abordaremos alguns aspectos da vida dos animais.

Livre-arbítrio. A liberdade de ação é restrita aos atos da vida material, e não pode ser comparada a do homem. Os animais progridem pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação. Não são responsáveis pelos seus atos. Estando sujeitos ao determinismo Divino, eles não podem escolher a espécie em que preferem encarnar. O livre-arbítrio é uma conquista que o Espírito realiza, no reino humano, através da evolução moral e intelectual.

Inteligência e instinto. Os animais agem por instinto, mas tem uma inteligência limitada à sobrevivência, cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e prover à sua conservação.

Kardec1 observa que nos atos instintivos não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. No entanto, prossegue o Codificador, instinto e inteligência se revelam simultaneamente num mesmo ato. O animal carnívoro é impelido pelo instinto a se alimentar de carne, mas as precauções que toma e que variam conforme as circunstâncias, para segurar a presa, a sua previdência das eventualidades são atos da inteligência.

Animais e reencarnação. Todos os seres vivos são dotados de uma individualidade imortal e perfectível, que tem na reencarnação o recurso fundamental em favor de sua evolução2. Todavia, não significa que o princípio inteligente precise passar por todas as espécies para chegar à condição de ser humano.

Os animais têm perispírito? Sim. Não só o homem é dotado desse órgão, necessário às funções que exerce; todos os animais mantêm essa ideia diretriz. Até os mais insignificantes insetos, todos são dotados desse organismo. É como uma tela vital que representa o desenho ideal de um organismo. É o perispírito que contém o molde que conduzirá o novo organismo à espécie, segundo o grau de sua evolução. Antecedendo a reencarnação, o perispírito de cada um passa por transformações adequadas à espécie em que vem viver.

Razão dos sofrimentos para os animais. Informam os Espíritos3 que não se deve crer que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. A dor nos animais é um agente de excitação psíquica, auxiliando o despertar das suas sensações e depois seus sentimentos. Pela dor, o princípio inteligente vai desenvolvendo o instinto e estruturando as condições psíquicas necessárias para adentrar, logo adiante, no reino humano. No homem, o sofrimento funciona como um depurador de suas imperfeições, estimulando seu desenvolvimento moral. O animal não tem vida moral e por isso suas dores são apenas físicas.

Espíritos protetores. Os seres, por menores que sejam, nunca são desamparados por Deus, que lhes concede protetores espirituais, que os auxiliam na jornada da vida4. Álvaro5, Espírito, informa que alguns Espíritos cuidam de grupos de animais e, à medida que vão evoluindo, o atendimento vai tendendo a individualização. Muito mais do que supomos, os animais são assistidos em seu desencarne, por Espíritos que os recebem no plano espiritual e cuidam deles.

Animais: nossos companheiros de evolução. Erasto6 informa que Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos alimentarem, para vos vestirem e vos ajudarem. Deu-lhes um certo grau de inteligência porque, para vos auxiliar, precisam compreender, e condicionou essa inteligência aos serviços que deviam prestar.

Por isso, já nas primeiras décadas no século passado, Cairbar7 grafou um forte apelo em favor dos Animais. (…) Lembrai-vos que os animais são seres vivos, que sentem, que se cansam, que têm força limitada, e finalmente, que pensam, e que, em limitada linguagem, acusam a sua impotência, a sua fadiga irreparável aos golpes do relho e das bastonadas com que os oprimis! Sede benevolentes, porque também em comparação aos Espíritos Divinos, de quem implorais luz e benevolência, sois asnos sujeitos à ação reflexa do bem e do mal! (…) Os animais domésticos são vossos companheiros de existência terrestre; como vós, eles vieram progredir, estudar, aprender! Sede seus anjos tutelares (…). Sede benevolentes para com os seres inferiores, como é benevolente, para com todos, o nosso Pai que está no Céus!

Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. A Gênese. 37. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996. cap. III, itens 11 a 13.
2SIMONETTI, Richard. Reencarnação – tudo o que você precisa saber. 3. ed. Bauru, SP: CEAC, 2001. p. 69.
3KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996. cap. V. item 9.
4 e7SCHUTEL, Cairbar. Gênese da Alma. 6. ed. Matão, SP: O Clarim, 1982. p. 90 e 118 a 120.
5PRADA, Irvênia. A Questão Espiritual dos Animais. 7. ed. São Paulo: FE, 2005. p. 68.
6KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 65. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. cap. XXII, item 236.