Princípios Espíritas

 “Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada(…).” Alan Kardec1

A Doutrina Espírita está baseada em princípios, não em dogmas. Dogma é “princípio de fé indiscutível de doutrina religiosa e, p. ex., de qualquer doutrina ou sistema” 2.

Os princípios (“regras e preceitos” 3) do Espiritismo são corroborados pela razão, pois nada deve ser aceito sem ter passado por discussões e questionamentos, sem ter passado por esse “crivo”. O espírita, somente assim se considera, após longos estudos, comparações, análises, exames dos postulados espíritas, aceitando-os, pois estes não ferem a inteligência e não entram em contradição com o raciocínio lógico.

Allan Kardec rejeitou inúmeras mensagens, várias teorias e um contingente muito grande de sistemas filosóficos enviados pelos espíritos por serem incoerentes com o bom senso e com o que já havia sido provado impossível. A necessária separação “do joio do trigo” demonstra o trabalho gigantesco do Codificador, denominado pelo notório astrônomo Camille Flamarion como o “bom senso encarnado”.

Seguindo essa linha de pensamento, não desviando do caminho da lógica, analisemos os princípios basilares do Espiritismo:

– Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. As leis naturais que regem o Universo, sábia e equilibradamente elaboradas, possuem um legislador do mesmo nível. Aceitar o surgimento do universo e do homem como obra do acaso é abdicar da razão. Dentro das leis da Física todo efeito tem uma causa, quanto mais inteligente o efeito, tanto mais inteligente é a causa. Deus é a causa de existirmos.

– Existência e pré-existência do espírito. O corpo físico, sem a existência do espírito é matéria inerte. O corpo necessita do ser inteligente para ter vida e comando. O espírito, quando encarnado, é chamado de alma e já existe muito antes da união das duas células reprodutivas.

– Pluralidade das existências (reencarnação) e Lei de Causa e Efeito. Se Deus, suma inteligência e bondade, tivesse criado o homem para apenas uma existência, condenando-o ou gratificando-o para toda a eternidade por atos bons ou maus que praticara ao longo de poucos anos de uma vida, Ele não seria tão inteligente assim! Seria até injusto, visto tantas discrepâncias e diferenças entre as suas criaturas: os que nascem com doenças congênitas e os saudáveis, os que habitam lares miseráveis e os em abundância, os gerados com graves problemas mentais e os gênios…

A reencarnação e a Lei de Causa e Efeito explicam que as diferenças e aparentes injustiças do Criador são resultado dos diversos graus evolutivos das criaturas, obtidas nas vivências passadas; as dificuldades são provas ou resgates de erros cometidos no passado sendo reparados no presente; as facilidades são conquistas do espírito que servem de estímulo para progressos ainda maiores. É a lei da Física adaptada à vida moral: colhemos o que plantamos, recebemos o que damos.

– Comunicabilidade dos espíritos. Entre as reencarnações, os seres inteligentes, então denominados espíritos, vivem na chamada dimensão espiritual. Ficam mantidos os vínculos afetivos com quem ficou na Terra, os pensamentos ficam conectados por interesses mútuos. Por que Deus, por misericórdia, não permitiria, sob determinadas condições, a comunicabilidades entre encarnados e desencarnados, pois apenas o que os diferencia é o corpo material? O contato com os que já partiram é uma valiosa oportunidade de comprovação da continuidade da vida após a morte, de aliviar um pouco a saudade dos entes queridos, de recebermos a orientação dos mais sábios. Sendo possível a comunicabilidade, a influência do invisível para o visível também é possível.

– Pluralidade dos mundos habitados. A cada dia a Astronomia descobre novas estrelas, planetas, galáxias. Certamente Deus não criou os inúmeros astros somente para deleite e observação dos homens, habitantes ainda imperfeitos de um minúsculo planeta, quase insignificante perante o universo. Há espíritos sim, habitando outros planetas; uns mais adiantados que a Terra, outros mais atrasados, todos caminhando, através da evolução, para a perfeição.

– Evolução moral e intelectual progressiva. Todas as criaturas evoluem. O espírito, antes de utilizar o corpo humano, estagiou nos milênios que compõe a eternidade, como princípio inteligente, nos reinos mineral, vegetal e animal irracional, conquistando progressivamente os estágios evolutivos. Na seqüência, atingirá o grau de espírito puro ou perfeição relativa, pois absoluta, somente Deus. Na estrada evolutiva, o espírito pode se atrasar ou estacionar, mas jamais retroceder. A evolução contínua é algo de grandioso: ninguém é preferido ou excluído, todos evoluem, uns mais rápidos, outros mais vagarosamente, de acordo com o livre-arbítrio, mas ninguém ficará eternamente na situação de dor ou sofrimento.

O Espiritismo caracteriza-se pela realização do culto interior. Assim o homem procura conhecer-se e trabalhar pelo seu adiantamento moral e intelectual. Não há nada de exterior nas práticas espíritas, tudo depende do pensamento, para o qual a forma não é nada e o fundo é tudo.

Luis Roberto Scholl
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 99.ed. Rio[de Janeiro]: FEB, 1998. introdução, II parte.
2LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.
3Idem, Ibidem.