Porque a dor

Quando Jesus, no Sermão da montanha, afirmou: “Bem-aventurados os que sofrem, porque serão consolados”, sinalizou o caminho da evolução humana, onde a dor e o sofrimento estão atrelados às imperfeições dos espíritos que reencarnam na Terra.

            Sabemos que o sofrimento está presente em todos os lares: dos palácios aos mais humildes casebres, do mais inteligente dos homens ao mais simples e ignorante ser. Será que simplesmente sofrer basta para sermos consolados?

            O Espiritismo como complemento dos ensinamentos cristãos, veio elucidar esta afirmação do Mestre: existe o bem e o mal sofrer (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 18). A dor, seja ela de natureza física ou moral, quando bem suportada, com resignação, calma, paciência, com uma busca incessante de melhora psico-bio-energética, serve como um grande impulso da criatura a um futuro mais feliz. Ao contrário, se a dor é recebida com revolta, cólera, desespero ou acomodação, ela servirá como um fator de retardamento evolutivo do ser.

            A Doutrina Espírita faculta aos homens conhecer a razão dos seus sofrimentos, consagrando a Lei de Causa e Efeito, onde toda ação corresponde a uma reação; a reencarnação, na qual, o que não podemos explicar como resultados de ações desta vida, certamente encontraremos causa em vidas pretéritas; nos fazendo compreender os mecanismos da Justiça Divina, soberanamente bondosa e misericordiosa.

            Fundamentalmente a dor é considerada uma lei de reequilíbrio, de desacomodação e de educação.

            Reequilíbrio no sentido de resgate, de expiação dos erros cometidos no passado ou no presente, onde houve a violação da ordem natural. Na retomada do caminho do bem, que é o nosso glorioso destino, a dor e o sofrimento, quando bem sentidos, vêm restabelecer o equilíbrio nas leis da natureza, onde o amor é a lei maior.

            Desacomodação, quando, em regra geral, fechamo-nos no estreito círculo do individualismo, do egoísmo, limitando nossa ação a prazeres estéreis. Nesse caso surge a dor como uma reserva estratégica, como um alerta para sairmos do comodismo, da apatia, do egocentrismo e alçarmos vôos mais altos, de sentimentos superiores e renovadores da alma.

            A dor como educadora, mostra-nos que, algumas vezes, pela livre escolha, traçamos caminhos equivocados, e procura nos reorientar, preservando-nos dos excessos que poderíamos cometer, mostrando o verdadeiro sentido da vida. Exemplificando, é como a criança que, por experiência ou desobediência, não ouve os conselhos da mãe e coloca a sua mão sobre a chama. Por sua teimosia e insubordinação ela experimenta a sensação do fogo e comprova, pela dor, que aquilo é algo que ela não deve mais fazer.

            Há ainda a dor dos grandes missionários, que pela superioridade espiritual, servem como exemplos de grandeza no sofrimento. JESUS é o maior exemplo que temos de sofrimento físico, para quem nada tinha a expiar ou resgatar na Terra. Francisco de Assis, Sócrates, Joanna D’Arc, Fabiano de Cristo, Alcione (retratada no romance Renúncia, de Emmanuel) e outros, são espíritos que vieram mostrar o caminho de nossa edificação, de nossa evolução, para tornar-nos os consolados das bem-aventuranças.

            Se soubermos observar na hora da provação o trabalho interno, a ação misteriosa da dor, a transformação que ela pode provocar compreenderemos melhor o seu papel de sublime educadora e terapeuta no aperfeiçoamento individual.

            Consideremos todos os nossos sofrimentos, dos mais insignificantes aos maiores, mas tenhamos certeza de que a dor não surge ao acaso ou por injustiça. Confiando plenamente na bondade do nosso Deus Criador, sintamo-nos confortados e consolados, apoiados pelos amigos da espiritualidade. Toda a experiência bem vivida e, sobretudo, bem sentida, não precisará retornar ao nosso destino. Eis aí o bem sofrer.