Por um mundo melhor

Naquela noite, Guto resolveu ficar mais atento e, junto a seu pai, assistir o jornal na televisão.

Ao final do programa ele estava indignado, muito triste e desiludido, e o pai ficou preocupado. Chamou-o de volta e perguntou:

– O que aconteceu, Guto? O que te deixou tão chateado?

– Você não viu o jornal, pai?

– Vi, mas o que é que tem?

– Você não viu as tragédias que apareceram? Corrupção por todos os lados; crianças passando fome; velhinhos morrendo sem assistência; greves na cidade; conflitos no campo; guerras espalhadas por todo o mundo…

O pai, que havia assistido o jornal, disse que tinha visto tudo aquilo também, mas não havia se impressionado, porque as notícias eram quase iguais as do dia anterior, da semana anterior, do mês anterior, do ano anterior. O que mudava eram os lugares e os personagens.

– Você não se indigna com isso, pai? Como é que tem pessoas que acreditam que o mundo está melhorando? Aonde? Eu não vejo! Só podem ser pessoas ingênuas ou tolas.

Seu Augusto, de certa forma, entendeu os sentimentos do filho, mas ficou muito preocupado com os seus próprios sentimentos. Estava se sentindo anestesiado, acostumado com a dor alheia, insensível ao sofrimento do próximo.

A mãe, que acompanhava a conversa de longe, resolveu participar do assunto.

– É verdade, meu filho, que no mundo ainda há muita dor, violência, injustiças. Mas, não tenha dúvida, o mundo está melhorando.

– Então me diz: onde, mãe?

– Alguns jornais às vezes apresentam as mazelas do mundo com tintas mais fortes, porque algumas pessoas ainda preferem acompanhar as tragédias dos outros. Mas, as boas notícias também começam a ter um espaço maior no noticiário. Preste mais atenção e verá muitas boas ações feitas por pessoas, grupos ou comunidades, virando manchetes. Assim como você, muitos outros se sentem instigados com as injustiças, arregaçam as mangas e vão à “luta” por um mundo melhor. E esta “briga” não é contra os outros, mas a favor do bem comum.

Quando quiser comparar para ver se o mundo está melhorando, não compare o hoje com um período muito próximo, porque as mudanças são lentas e graduais. Pense mais longe, reporte-se à sociedade de 80, l00, 120 anos atrás: a educação era privilégio dos nobres; a abolição da escravatura estava dando seus primeiros passos; as comunicações eram precárias; o individualismo não era menor do que agora; as mulheres eram consideradas cidadãs de segunda classe; a violência, proporcionalmente, talvez fosse maior do que hoje; as guerras envolviam todo o planeta…Veja que muitas coisas mudaram, outras nem tanto, mas será somente com a reforma íntima, individual, que o mundo será reformado. Faça a sua parte e não se preocupe com o que os outros estão fazendo.Você pode ser um agente multiplicador do Bem.

Dona Júlia aquela noite estava inspirada. Suas idéias brotavam facilmente neste pequeno discurso. Augusto e Guto ficaram admirados. Ela tinha razão, o mundo de hoje, com todas as imperfeições, está muito melhor do que era no passado. Praticamente em todos os setores houve evolução. Falta ainda o coração do homem se tornar mais terno e fraternal para que a felicidade seja mais duradoura.

“Fazer o que está ao meu alcance, é isso que me compete.” – pensou Guto. Ainda se lembrou de uma frase que ele leu em um cartaz no Centro Espírita:<b. “CONSTRUAMOS A PAZ, PROMOVENDO O BEM”.

Esse é um bom lema para a vida.

Luis Roberto Scholl