O Perdão divino

Algumas religiões adotam, em seus postulados, o arrependimento como único e exclusivo meio de se alcançar o perdão. Acreditam que é necessário apenas o arrependimento para se obter a graça do perdão, bastando arrepender-se para estar livre, e ser perdoado.

Mas isso não está de acordo com a justiça divina, que não anistia, mas anula, após a quitação da dívida. Essa anistia, essa graça, seria uma injustiça e até uma desgraça. Pois um perdão sem reformas estaria tirando do ser que erra a oportunidade de se educar e evoluir. Nosso criador não nos livra das faltas apenas com o simples arrependimento. Mas também, não nos condena a penas eternas.

Na questão 999 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona aos espíritos superiores se o arrependimento sincero durante a vida é suficiente para extinguir as faltas e fazer que se mereça a graça de Deus: “O arrependimento auxilia a melhora do espírito, mas o passado deve ser expiado”, respondem os Espíritos Superiores.

Assim não vamos nos iludir, ao escolher o caminho da evolução, passaremos pelo arrependimento, mas não ficaremos por aí. O arrependimento é o primeiro passo, mas não basta para apagar as nossas faltas. Precisamos passar pela reforma íntima, consertando o que estiver errado de forma a não reincidir no erro. lembrando do que disse Jesus a mulher adultera: “Vá e não peques mais”.

Passando pela reforma, devemos caminhar em direção a reparação, que é uma demonstração através do amor e da doação, fazendo com que aprendamos bem a lição. A reparação é o caminho que obrigatoriamente precisamos trilhar para a libertação definitiva dos nossos erros. Diante do Criador, estamos sujeitos a lei de causa e efeito, assim seremos responsabilizados pelas faltas que cometemos. Ninguém foge de si mesmo, das suas realizações. A nossa consciência, por mais que demore, um dia irá despertar, convidando-nos ao ajustamento moral e a regularização dos equívocos.

E de que forma podemos fazer essa reparação? Praticando o bem em compensação ao mal que fizemos. Fazendo àqueles a quem prejudicamos tanto bem quanto mal lhes tenhamos feito. Tornando-nos humildes, se tivermos sido orgulhosos. Amáveis, se tivermos sido severos. Caridosos, se fomos egoístas. Úteis, se tivermos sido inúteis. Benignos se fomos perversos. Realizar o que deveríamos ter feito e não fizemos: deveres que desprezamos, missões que não cumprimos. Dessa forma estaremos evoluindo e alcançando o Perdão Divino.

Joanna de Ângelis, no Livro “Sendas Luminosas”(LEAL), nos orienta: “Somente um meio existe para alguém se liberar da consciência de culpa, que é o trabalho de dedicação ao dever, de reconstrução interior mediante o auxílio a si mesmo e à sociedade, na qual se encontra”.

Mas quem não repara pelo amor e pela doação, permanecendo na inércia e no endurecimento, fatalmente acabará sendo conduzido para outro caminho, que é o do resgate pela dor, pela expiação. Deus não apressa a expiação, nos dá tempo necessário para que a nossa consciência desperte e retomemos o rumo certo, mas se assim mesmo, pela nossa própria iniciativa, não reparamos as nossas faltas, a expiação vêm naturalmente.

Esse é o caminho mais difícil, mas também faz parte dos desígnios de Deus, para que alcancemos o Seu Perdão.

 

Baseado em artigo da Revista Internacional de Espiritismo,
edição de Jan/2001