Passando a limpo

Na época em que estávamos nos bancos escolares, na cadeira de Língua Portuguesa, havia uma matéria especial chamada Redação em que os alunos deviam, além de exercitar os conhecimentos de gramática, desenvolver a sua “veia literária”, a habilidade de escrever crônicas, poemas, dissertações.

O professor recomendava que fizéssemos primeiro um rascunho da redação, já que todo aprendiz de uma nova lição provavelmente irá cometer alguns erros, e somente após as correções necessárias passássemos a limpo o texto final para avaliação.

Essa orientação sempre foi muito importante, pois, na releitura do texto, verificávamos nossas maiores falhas. Com o passar do tempo e a experiência, cada vez mais o “rascunho” se tornava o “passado a limpo”, pois já nos dávamos conta do erro antes de cometê-lo e assim as correções foram ficando cada vez mais raras.

Lembramos dessa história porque, inspirados em um artigo do jornal O Clarim¹, percebemos que a nossa vida também deve ser constantemente passada a limpo, para verificarmos onde, quando, como e por que ainda cometemos erros e, o que é mais importante, como devemos proceder para corrigi-los.

Na questão 919* de O Livro dos Espíritos², o Espírito Santo Agostinho responde que a melhor maneira de evoluirmos nesta vida e resistir a tentação do mal é conhecermos a nós mesmos. Kardec, querendo tornar esta resposta mais prática, pergunta qual o meio de conseguir isso. O luminar Espírito então responde de forma clara e categórica acerca da necessidade de uma auto-avaliação diária que o autor do artigo assim resumiu³:

“1º) Interrogarmo-nos sobre o que temos feito;

2º) Com que objetivo fizemos ou agimos daquela forma;

3º) Se fizemos algo que censuraríamos se praticado por outra pessoa;

4º) Se algo fizemos que não ousaríamos confessar;

5º) Se ocorresse a desencarnação, teríamos o temor do olhar de alguém?

E, finalmente, entre outras importantes considerações, recomenda que examinemos se agimos contra Deus, contra o nosso próximo e contra nós mesmos. E conclui o raciocínio esclarecendo que as respostas obtidas nos darão o descanso para a consciência ou a indicação de um mal que precisa ser curado.”

Se investigando a consciência ainda estivermos em dúvida, Santo Agostinho argumenta4“(…) Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, porque Deus não tem duas medidas para a justiça”.

Para guardarmos melhor essa lição, deveríamos tê-la à nossa mesa de cabeceira e, à noite, antes da oração, averiguar nossa consciência “passando a limpo o rascunho do dia”, vendo as falhas cometidas e como retificá-las, e vendo os acertos, reforçá-los.

Agindo assim, aparecerão cada vez menos imperfeições no nosso dia-a-dia, pois saberemos evitá-las antes que aconteçam e, aquilo que a princípio era um rascunho – a nossa vida – vai se tornando cada vez mais uma bela história de felicidade.

Luis Roberto Scholl
* recomendamos a leitura completa desta questão.
1CARRARA, Orson P. Injusta acusação. O Clarim, junho 2005. n.11, ano XCIX. Matão, SP.
2KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed. Rio[de Janeiro]: FEB. 2002.
3CARRARA, Orson P. idem.
4KARDEC, Allan. Idem.