O Sol brilha para todos

Mais que uma frase poética, a afirmativa dos Espíritos superiores no item 803 de O Livro dos Espíritos de que “o Sol brilha para todos”, demonstra a absoluta sabedoria e justiça divina agindo em todas as criaturas.

Como se explica que todos são iguais perante Deus, que recebem oportunidades iguais, se encontramos tantas desigualdades sociais, de aptidões, de riquezas?

Uns com tanto, outros com tão pouco… Uns com saúde, outros com enfermidades desde o berço; alguns na fartura, outros na mendicância; uns intelectualmente dotados, outros na ignorância ou debilidade mental…

Ora, se a alma fosse criada no momento da concepção, como declaram as doutrinas dogmáticas, nada justificaria as diferenças entre os seres humanos senão a existência de um Deus injusto, tendencioso e parcial. Mas, felizmente, não é assim.

Quando entendermos que Deus criou todos os Espíritos iguais, simples e ignorantes, e que, cada qual já viveu mais ou menos, com maior ou menor experiência, vê-se que as diferenças residem no uso da vontade, que se traduz no livre-arbítrio de cada um. Resulta então, que um ser se aperfeiçoa mais ou menos rapidamente do que outro, de acordo com suas vivências e esforços, o que lhes confere aptidões diferentes.

Assim, as diversidades que encontramos entre os homens não é produto de privilégio ou prejuízo, mas de graus de aperfeiçoamento que cada indivíduo tenha alcançado como Espírito, durante as várias encarnações.

É providencial a convivência entre seres com diferentes níveis de desenvolvimento para que, solidariamente, o mais apto, o mais avançado, tenha as oportunidades de praticar a caridade, auxiliando o mais atrasado e inapto, oferecendo condições para que este também possa evoluir pelos seus próprios esforços.

Lamenta-se que uma grande parte daqueles que se encontram em uma posição social, política, econômica ou intelectual destacada, ao invés de auxiliarem os mais fracos, abusam de sua colocação para oprimir e subjugar o próximo em seu proveito próprio. Neste caso, alertam-nos os Espíritos superiores (q. 807): “(…) Ai deles! Serão oprimidos por sua vez e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que tiverem feito sofrer os outros.”

Como podemos entender então, a Lei de Igualdade como a justiça de Deus sendo aplicada aos homens?

É Kardec quem responde no comentário à questão 803: “Todos os homens são submetidos à lei da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeito às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não concedeu superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte; diante dele, todos são iguais.”

O princípio (simples e ignorantes) e a meta (perfeição relativa) são iguais para todos. É durante a trajetória reencarnatória, nas experiências necessárias, que vamos perceber os diferentes estágios evolutivos dos seres, mas, sempre regidos pelas mesmas leis e com oportunidades para todos.

Isto deve servir de estímulo para aqueles que se sentem desafortunados na vida: esforcem-se, dediquem-se, empenhem-se, busquem superar as imperfeições que, mais cedo ou mais tarde, as dificuldades cessarão e também poderão estar em uma situação melhor.

Luis Roberto Scholl
* Citações de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra.