O jovem e o trabalho

Muitos, quando ouvem a palavra trabalho, querem distância e, quanto mais distante, melhor. O trabalho, para esses, significa tortura, esforço, perda de tempo, horas inúteis que poderiam ser ocupadas com coisas mais ‘úteis’, como por exemplo: cair na balada, entrar na rede de bate-papo, ficar à toa…

Não é por acaso que o trabalho tem esta conotação de ‘coisa ruim’. Na Bíblia, encontramos o primeiro ‘castigo’ dado por Deus ao homem: Adão, por descumprir as ordens de Deus e cometer o ‘pecado’, foi condenado a conquistar o pão com o suor do próprio rosto. Parece que até Deus é contra o trabalho! Este pensamento é ilógico e contraria a mensagem de Jesus: O Pai até hoje trabalha e eu também.

Essa ideia também é comum porque ao longo da história da humanidade os únicos membros da sociedade que tinham que trabalhar eram os vassalos, os escravos e os pobres. Provavelmente passamos por essas condições em muitas reencarnações, ficando a má impressão sobre o trabalho.

Se quanto ao trabalho profissional, aquele que ajuda a pagar as contas, a ideia é esta, em relação ao trabalho voluntário, o pensamento é ainda pior: “- Puxa, se eu não gosto de trabalhar ganhando dinheiro, por obrigação, como é que eu vou fazer um serviço voluntário, que como o nome diz, é voluntário, e eu não ganho nada com isso!”

Na realidade, sem o trabalho, tanto a humanidade como o indivíduo, estariam muito atrasados, num primitivismo intelectual, talvez ainda morando em cavernas, caçando o alimento (olha aí o trabalho), sem o conforto da vida moderna. O trabalho, portanto, é que leva ao progresso e à evolução.

Mas, o que é trabalho?

Em O Livro dos Espíritos vamos encontrar um capítulo especifico sobre a Lei do Trabalho (terceira parte, capítulo III), nos esclarecendo que ele é uma lei da Natureza, por isso mesmo, mais que uma obrigação, umanecessidade, tanto do Espírito, como do corpo, que também trabalha. Na questão de número 675, dizem-nos quetoda ocupação útil é trabalho. Esta forma de entendimento amplia o conceito de trabalho, saindo da condição puramente material, de conservação da vida física, e penetra no âmbito do Espírito, pois quando nos ocupamos com algo que tem utilidade, estamos trabalhando.

O que é útil?

Quando estamos fazendo uma boa leitura, estudando, fazendo os deveres de casa, auxiliando no serviço doméstico, separando o lixo seco do úmido, cuidando do animal doméstico, regando as plantas (não deixando água acumulada no pratinho), auxiliando o vizinho no conserto da torneira, tudo isso é trabalho: apesar de não haver remuneração monetária (dinheiro) estamos nos ocupando de forma útil e recebendo aprendizados.

O voluntariado é uma das formas mais belas de trabalho pois, quando feito desinteressadamente, traz ao indivíduo uma sensação de bem-estar e a impressão de se sentir útil, que é uma das necessidades do ser humano. Qualquer auxílio que se faça de forma concreta e com regularidade é considerado trabalho voluntário: visita a asilos e creches, a hospitais e abrigos, o serviço de qualquer natureza na Casa Espírita, a contação de histórias para crianças, auxiliar a outros jovens no estudo, ensinar um instrumento musical, ou seja, utilizar do nosso talento de forma útil em benefício do outro.

Assim como o trabalho, o repouso também é uma lei da Natureza. Serve para que o corpo repare suas forças e o Espírito tenha mais liberdade para o desenvolvimento da inteligência. Mas o repouso e o lazer não devem constituir em ociosidade inútil ou em ocupações que possam comprometer a estrutura física e moral da pessoa. Então, devemos pensar muito bem de que forma utilizamos os nossos momentos de repouso.

Desmistificando a questão do trabalho, procuremos pensá-lo como recurso de Deus para a nossa evolução, sendo, em algumas vezes, uma expiação, quando não soubemos, em encarnações passadas, aproveitar oportunidades valiosas que recebemos e utilizamos o nosso tempo precioso somente em coisas fúteis, desnecessárias ou prejudiciais.

Luis Roberto Scholl