Morte: Momento de Transição

Toda a mudança gera alguma instabilidade emocional. O novo ou o desconhecido produzem uma apreensão que lentamente vai se desfazendo à medida que nos adaptamos a nova realidade. Isso acontece quando mudamos de cidade, de emprego, quando casamos e passamos a viver na nossa casa, com a chegada dos filhos ou quando nos aposentamos.

A vida é um constante processo de mudanças e, desse modo, ao longo da vida enfrentamos situações que podem causar, de acordo com a nossa estrutura emocional, em grau maior ou menor, momentos de insegurança e aflição.

De todas essas ocorrências, o nascimento e a morte, pelas alterações que produzem, podem provocar momentos de perturbação mais intensos. Na reencarnação, o Espírito, normalmente, será acompanhado pela ansiedade, pela insegurança ou pelo receio de falhar no cumprimento do projeto de vida que se propôs a cumprir na nova existência. E o final da existência terrena com a desencarnação que, embora não produza alterações na individualidade e na personalidade, provoca mudanças significativas na rotina, nos hábitos, na forma de sentir a vida com a perda do corpo físico, na forma de nutrir-se e de comunicar-se.

A quebra de rotina, estabelecida por muitos anos, será suficiente para gerar alguma instabilidade emocional. Acrescemos a isso, a necessidade de desapegar-se de coisas, das pessoas com quem compartilhamos a existência na Terra e de atividades e projetos não concluídos.

Para que essa transição seja lenta, o Mundo Maior vai proporcionar estágios em esferas intermediárias para que o indivíduo vá se adaptando a nova realidade. Lá encontraremos hospitais, educandários, templos e lares para o atendimento, esclarecimento e recepção daqueles que chegam enfermos ou que não conseguem compreender a sua nova realidade.

Para aqueles que estão ainda muito materializados será fornecida alimentação, que embora semelhante a que ingerimos aqui, é feita de matéria própria do mundo espiritual e de acordo com o organismo perispiritual de cada um. Isso demonstra a realidade do Mundo Espiritual, um meio concreto, onde se encontram as condições indispensáveis para as adaptações e o progresso do Espírito1.

Essas informações nos confortam, pois sabemos, através daqueles que nos antecederam nessa passagem, que a vida continuará sempre e, onde estivermos, a Divindade nos ofertará as melhores condições para a conquista do progresso espiritual, objetivo primeiro da criação.

Através das variadas formas de mediunidade (psicografia, psicofonia), o Mundo dos Espíritos, gradativamente, na medida do merecimento e capacidade de assimilação de cada um, tem revelado novas informações, apontado caminhos, sugerindo condutas para que essa viagem de retorno e a readaptação no outro plano da vida ocorram da melhor forma possível.

A solução dos conflitos íntimos, das culpas, dos medos, o enfrentamento do orgulho e do egoísmo são medidas impostergáveis para aquele que anela um despertar tranqüilo no mundo espiritual. Pois como a morte física não significa uma mudança no campo íntimo, chegaremos lá com a mente voltada para os aspectos positivos ou negativos que marcaram a nossa existência2: mesmas crenças, princípios morais, modo de pensar e sentir a vida. Os compromissos negligenciados, as quedas, os equívocos não reparados serão motivos de infelicidade, porém as boas obras e o progresso conquistado trarão o júbilo e a paz de consciência não somente para aquele que retorna, mas para todos os que o aguardam da jornada terrena.

A Doutrina Espírita, através dos seus princípios, ensina que a crença na continuidade da vida, é o maior estímulo que temos para progredir. Os testemunhos de Espíritos que já percorreram essa travessia ressaltam a importância de viver bem essa vida, fazendo boas ações, praticando a caridade, conquistando amigos e afetos.

No Livro O Céu e o Inferno (capítulo II da segunda parte) o Codificador3 inseriu uma coletânea de comunicações de Espíritos, ordenados por diferentes estágios de felicidade e infelicidade, possibilitando, através desses relatos, perceber que não há privilegiados, nem excluídos, na obra de Deus. Cada um colherá, nesta ou na outra vida, segundo as suas próprias obras.

Na medida dos esforços para domar as más inclinações, na renúncia, no desapego, na humildade conquistada, podemos desde já antever como será a vida no mundo espiritual. Portanto, não vamos temer a morte, mas sim temer a nossa conduta equivocada e lutar contra as nossas imperfeições.

Cleto Brutes
1 SCHUTEL, Cairbar. A vida no outro mundo. 6. ed. Matão, SP: O Clarim. p. 77.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 2002. Questão 306.
3 ______. O Céu e O Inferno. 44. ed. Rio de Janeiro:FEB, 1999.