Matemática do Perdão (A)

Na época anterior a Moisés o mal era combatido com o mal, de forma ilimitada. Para vingar a morte de um membro da tribo, era sumariamente eliminada a tribo inteira do agressor; para um pequeno delito, a morte ao infrator era fato comum. Com a instalação por Moisés da Pena de Talião – olho por olho, dente por dente – houve um grande avanço para aqueles povos primitivos, pois se uma pessoa da tribo era assassinada, matava-se um membro da tribo rival, quitando o débito; se alguém quebrava um dente do outro, era-lhe quebrado também um dente e não mais a dentadura inteira como outrora. Uma agressão era anulada por uma agressão semelhante e a dívida contraída ficava neutralizada por outra dívida na direção oposta e de mesmo valor.

Na matemática mosaica, dois valores negativos (duas agressões) em sentido oposto se anulavam. Assim, representando a ação e o revide:

(-1) + (-1) = 0

            Durante muito tempo essa era considerada “a matemática correta” para a justiça, e serviu para dirimir ódios seculares e abrandar maiores vinganças.

Com o passar do tempo, a humanidade evoluiu e preparou-se para uma nova proposta matemática: a doperdão.

O portador dessa boa nova era o grande enviado divino, o Mestre Jesus. Declara o profeta nazareno não ser mais possível combater ou compensar um mal por outro mal. Jesus apresenta o Deus-amor, o Deus-bondade, o Deus-justiça, denotando que o sentimento de “justiça-vingativa” não deveria mais habitar os corações humanos.

Esclarece que uma ofensa recebida não será neutralizada por outra ofensa, mas sim, somada, pois, nessa situação ambos adquirem débitos:

(-1) + (-1) = (-2)

            A revolucionária fórmula matemática cristã decretou a extinção da pena de talião e trouxe uma nova proposta: para cada ação negativa, o ofendido deve responder com sentimentos positivos de perdão e amor ao ofensor. Somente assim o mal se extinguirá da Terra; do contrário ele se multiplicará. Temos, então:

(-1) + (+1) = (0)

            Amar os inimigos; dar a outra face; perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes; fazer o bem a quem nos faz o mal… em inúmeras oportunidades Jesus demonstrou qual era o caminho para a verdadeira justiça e para a paz: o perdão.

Quem contrai um débito frente ao próximo, contrai um débito maior frente às Leis Divinas. Se o ofendido utiliza-se da lei mosaica para cobrar suas dívidas, estará também se endividando, desnecessariamente, perante a Lei de Deus. O fato de perdoar, de pagar o mal com o bem, de não se vingar, não compromete o ofendido, que fica liberto, mas não livra o ofensor de seus débitos, cujos resgates necessariamente acontecerão.

A Doutrina Espírita – o Cristianismo ressurgindo nas suas raízes – revela como o apogeu da vivencia cristã a própria inofendibilidade do indivíduo. As pessoas que se encontram neste estágio de não mais se ofender, já estão em um nível mais elevado de perfeição moral. Para esses, não há débito, nem necessidade de perdão, pois não há ofensa.

Essa matemática pode ser demonstrada na fórmula:

(0) + (+1) = (+1)

            Quem pratica essa equação não se ofende, e o que o move e preocupa é fazer o bem que está ao seu alcance.

Quando passarmos a entender que o agressor só age assim porque ainda não compreendeu o caminho da felicidade, já estaremos mais próximos de praticarmos essa matemática.

Se ainda não atingimos a elevação espiritual de Jesus, Francisco de Assis, Joana de Cusa, Allan Kardec, Madre Tereza de Calcutá, Ghandi ou Chico Xavier, devemos ter uma meta a atingir. E o trabalho a ser feito deve ser iniciado hoje, para que, nas reencarnações futuras, estejamos mais próximos do ideal cristão.

Luis Roberto Scholl