Luz da Compaixão (A)

  “Para praticardes a lei do amor tal como Deus o entende, preciso se faz que chegueis passo a passo a amar a todos os vossos irmãos indistintamente.” – Fénelon1

Lázaro tem toda razão ao afirmar2: “(…) Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. É então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da alma, prelúdio das alegrias celestes.”

Mais próximos do ponto de partida do que da meta, todos nós ainda trazemos muitas limitações, muitas perplexidades, muita revolta e indocilidade…

Há que depositar mais confiança em Deus e em Seus sublimes quão excelsos desígnios, aceitando – resignadamente – o que não está ao nosso alcance modificar. Ao mesmo tempo, faz-se necessário abrir o leque de nossos sentimentos, ampliando assim, nossa capacidade de amar e compreender a todas as criaturas, indistintamente.

Em página de peregrina beleza, o Espírito Neio Lúcio, através da mediunidade ímpar e abençoada de Francisco C. Xavier, nos traça as linhas gerais dessa ação junto ao amor praticado incondicional e indiscriminadamente, ao narrar um diálogo3 de Jesus com os discípulos da Boa-Nova, quando o Mestre falou:

“(…) Quem procura o Sol do Reino Divino há de armar-se de amor para vencer na grande batalha da luz contra as trevas. E para armazenar o amor no coração é indispensável ampliar as fontes da piedade. Assim, compadeçamo-nos dos príncipes, pois quem se eleva muito alto, sem apoio seguro, pode experimentar a queda em desfiladeiros tenebrosos. Ajudemos aos parvos; quem se encontra nos espinheiros do vale pode perder-se na incorformação, antes de subir a montanha redentora. Auxiliemos a criança; a erva tenra pode ser crestada, ante o sol do meio-dia. Amparemos o velhinho; nem sempre a noite aparece abençoada de estrelas. Estendamos mãos fraternas ao criminoso da estrada; o remorso é vulcão devastador. Ajudemos aquele que nos parece irrepreensível; há uma justiça infalível, acima dos títulos humanos, e nem sempre quem morre santificado aos olhos das criaturas surge santificado no Céu. Amparemos quem ensina; os mestres são torturados pelas próprias lições que transmitem aos outros. Socorramos aquele que aprende; o discípulo que estuda sem proveito, adquire pesada responsabilidade diante do Eterno. Fortaleçamos o mau; o espírito endurecido pode fazer-se perverso. Lembremo-nos dos aflitos, abraçando-os, fraternalmente; a dor quando incompreendida, transforma-se em fogueira de angústia. Auxiliemos as pessoas felizes; a tempestade costuma surpreender com a morte os viajores desavisados.

A saúde reclama cooperação para não arruinar-se; a enfermidade precisa de remédio para extinguir-se; a administração pede socorro para não desmandar-se; a obediência exige concurso amigo para subtrair-se ao desespero.

Enquanto o Reino do Senhor não brilhar no coração e na consciência das criaturas, a Terra será uma escola para os bons, um purgatório para os maus e um hospital doloroso para os doentes de toda sorte.

Sem a lâmpada acesa da compaixão fraternal, é impossível atender à Vontade Divina.

O primeiro passo da perfeição é o entendimento com o auxílio justo…”

Interrompeu-se o Mestre, ante os companheiros emudecidos. E porque os ouvintes se conservassem em silêncio, de olhos marejados de pranto, ele voltou à palavra em prece, e suplicou ao Pai luz e socorro, paz e esclarecimento para ricos e pobres, senhores e escravos, sábios e ignorantes, bons e maus, grandes e pequenos…

Quando terminou a rogativa, as brisas do lago se agitaram, harmoniosas e brandas, como se a Natureza as colocasse em movimento na direção do Céu para conduzirem a súplica de Jesus ao Trono do Pai, além das estrelas…

Rogério Coelho
Muriaé – MG
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XI, item 9. Editora FEB.
2Ibidem, item 8.
3XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no Lar. Pelo espírito Neio Lúcio. Capítulo 33. Editora FEB.