Filosofia Espírita

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez de novo.”
Paulo. (II Cor., 5:17.)

            É ponto tranqüilo e estabelecido a questão do tríplice aspecto do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião.

Mas, afinal de contas o que é Filosofia Espírita?

Por sistema filosófico entendemos uma filosofia de base, cujo objetivo é encontrar respostas para todas as questões filosóficas.

Temos na Antigüidade, em Platão e Aristóteles, dois grandes engenheiros construtores de sistemas filosóficos. Já na Idade Média podemos flagrar S. Tomaz de Aquino tentando fazer a conexão entre a filosofia aristotélica à teologia cristã.

Com o Renascimento surgiu um verdadeiro pandemônio de pensamentos novos e velhos sobre a Natureza e a Ciência, sobre Deus e o homem, e tal barafunda só pôde ser mais ou menos acomodada lá pelos idos do Século XVII sob a competente orientação de Descartes, que tinha duas preocupações principais:

1 – Saber se os nossos conhecimentos eram realmente seguros;

2 – Qual era a relação entre o corpo somático e a alma.

Só esses dois itens da proposta de Descartes ocuparam os grandes cérebros pensantes por um século e meio.

Allan Kardec conseguiu colocar a “pá-de-cal” na dúvida dos filósofos resolvendo a primeira questão com o dispositivo de segurança da Doutrina Espírita que é a Universalidade do Ensino dos Espíritos, enquanto que o segundo item é exaustivamente elucidado no bojo da Codificação Espírita que nos oferece um claro panorama sobre a relação existente entre o corpo físico e a alma.

Mas o Mestre Lionês ainda foi mais longe: resolveu de maneira definitiva e satisfatória as questões que durante séculos intrigavam os cérebros de escol dando-lhes equacionamento adequado. Explica, em feliz parceria com os Espíritos Superiores, a questão da origem e destino dos Espíritos, assunto que a todos interessa de perto.

Eis aí a Filosofia Espírita.

A ignorância gerada em torno da destinação dos Espíritos colocou durante séculos, muitas criaturas sob o domínio dos aproveitadores.

Dá para perceber a metodologia de Descartes embutida no trabalho de Kardec.

Segundo Descartes, no pequeno livro: “Discurso do Método”, a Ciência e a Filosofia devem andar de mãos dadas e, com Kardec, não só as duas caminharam assim, mas também, juntas, deram as mãos à Religião, que até então vivia à margem da Ciência e lançavam-se anátemas recíprocos.

Descartes explica – primeiramente -, que não devemos considerar nada verdadeiro, enquanto nós mesmos não tivermos reconhecido claramente que se trata de algo verdadeiro. Parece óbvio, mas, para lograrmos isto, temos de decompor um problema complicado em tantas partes isoladas quanto possível. E então podemos dizer que cada pensamento deve ser “medido e pesado”, mais ou menos como Galileu queria medir tudo e transformar o incomensurável em mensurável.

Descartes acreditava que o filósofo, para construir um novo conhecimento, devia partir dos aspectos mais simples para chegar aos mais complicados. Por fim, ele deveria testar através de cálculos e mais cálculos se nada tinha sido deixado de fora. Só assim, acreditava Descartes, se poderia chegar a conclusões filosóficas. Ele queria provar as verdades filosóficas mais ou menos como se prova um princípio de matemática, empregando para tanto a mesma ferramenta que usamos no trabalho com números: a razão.

A razão é a única coisa capaz de nos levar a um conhecimento seguro, pois nada nos garante que nossos sentidos são confiáveis.

Descartes não estava sozinho em seus critérios, porque vinte séculos antes, Platão afirmara que a matemática e as relações numéricas nos levam a um conhecimento mais seguro do que aquilo que nos dizem os sentidos.

Segundo o raciocínio de Descartes, o objetivo é, portanto, chegar a um conhecimento seguro sobre a Natureza da Vida, e a primeira coisa que ele afirma é que nosso ponto de partida deve ser duvidar de tudo.

Não se pode construir uma casa sobre a areia, já dizia Jesus. Também um sistema filosófico não pode ser construído em terreno arenoso.

Assim, voltando a Kardec, vemos que ele teve dúvidas a princípio e (sem trocadilhos) “descartou” primeiramente todo o conhecimento constituído antes dele, para só então começar a trabalhar no singular projeto da Codificação, em solo firme. Ele queria primeiro limpar e arrotear o terreno dos velhos e ancilosados materiais, antes de começar a construir a casa nova. Conseguiu!…

Não descartou a razão, afirmando que “só pode ser verdadeira a fé que encara de frente a razão em todas as épocas da Humanidade.”

Decompôs os mais intrincados problemas metafísicos e filosóficos reduzindo-os às mais simples expressões à semelhança de um cientista que disseca uma peça anatômica em estudos de laboratório.

Empregando materiais novos e sólidos fundiu o bloco monolítico chamado: Codificação Espírita.

Cartesianamente, Kardec partiu da dúvida, pois respondeu ao Sr. Fortier, o magnetizador que lhe dissera que estavam conseguindo fazer uma mesa falar:

“Só acreditarei quando vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé.”

Não era!…

Ao longo do tempo e após muitos estudos, Kardec provou, suficientemente bem que “as coisas velhas já passaram, pois, eis que tudo se fez de novo” e a Doutrina Espírita inaugurou a Nova Era da razão, descortinando seguros e novos caminhos na direção da definitiva alforria espiritual da Humanidade, como muito bem o profetizou Jesus quando anunciou que mais tarde viria um outro Consolador que não só nos faria lembrar Seus ensinamentos mas também nos ensinaria todas as coisas.

Ora, se a Doutrina Espírita é o Cristianismo redivivo; se a sua proposta mestra é fazer lembrar os ensinos de Jesus e explicar as coisas que Ele ao Seu tempo não pôde ensinar, e levando o corolário imediato desse aprendizado à nossa religação ao Pai Celestial, é evidente, é óbvio, que dos três vértices: Ciência, Filosofia eReligião, este último é o mais importante de todos, vez que até etimologicamente a palavra religião originária do latim “religare”, significa “religar”.

Rogério Coelho
Muriaé – MG