Evolução: Caminho Possível

  O Espírito humano é criado simples e ignorante para que, através das experiências, adquira o conhecimento e a moralidade necessários até atingir a perfeição, a meta primeira. Ele possui, no ponto de partida, em germe, todas as virtudes que deverão ser desenvolvidos ao longo dessa jornada, trazendo gravados na alma o desejo de progresso. É uma força que nos move, impulsiona e nos tira da acomodação.

É verdade que muitas vezes essa força é mal utilizada, quando por falta de conhecimento ou por não ouvir a voz da consciência, o ser humano perambula por caminhos equivocados, distanciados do sentido existencial, utilizando seus talentos apenas nas conquistas do conhecimento e das posses, bem como na satisfação dos sentidos.

Esse instinto, inato no ser humano, como herança do criador, tem como propósito guiar o Espírito na sua jornada evolutiva, para que, gradativamente, dentro das suas possibilidades, alcance os degraus de progresso até vencer todas as imperfeições.

Para termos uma ideia de quão longo é essa caminhada, Allan Kardec1, observa que os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós e, contudo, já estão bem longe de seu ponto de partida. Portanto, hoje, embora ainda distantes da meta, já nos encontramos longe do início.

Resta-nos prosseguir com esforço e persistência, fazendo o que nos for possível, de acordo com os talentos que possuímos e aproveitando as experiências que a vida nos oferece.

Com esse enfoque, destacamos, para reflexão, três quesitos: o perdão possível, a caridade possível e o amor possível.

O esquecimento das ofensas, para muitos, ainda está um pouco distante. Embora os sentimentos de mágoa e de revolta estejam sinalizando para o revide, o cristão já pode agir diferente, renunciando à vingança e fazendo pelo outro o que gostaria que o outro lhe fizesse. Esse é o perdão possível. Não conseguimos esquecer, mas podemos compreender que o ofensor é alguém, provavelmente, muito sofrido, enfermo e carente de compaixão.

No capítulo da caridade, se as grandes obras estão longe dos nossos recursos, as pequenas ações se apresentam como oportunidades imperdíveis a todo o instante. Não há um ser aqui na Terra que esteja impossibilitado de fazer o bem. Doar do nosso tempo e conhecimento, doar compreensão e escutar são atitudes possíveis, independente das nossas limitações. Se não houver nada que possamos fazer, em silêncio e as ocultas, como recomenda Jesus, nos entreguemos à prece que consola, liberta e reergue.

Quanto ao amor, temos que compreender que amar incondicionalmente é a nossa meta. O amor verdadeiro é uma construção para várias encarnações. Até essa conquista, podemos ter atitudes amorosas e fraternas com os que convivem conosco. Agir independente de como nos sentimos em relação ao outro, gostando ou não. Esse é o amor possível para a maioria dos Espíritos vinculados à Terra.

Naturalmente, para vivenciar esses princípios, enfrentaremos obstáculos muito naturais e necessários. Sofreremos pressões internas e externas. Toda mudança gera desconforto, provoca internamente um choque de valores no homem velho, apegado aos vícios e em conflito com os valores novos que estão sendo implantados.

À medida que mudamos, vamos nos sentir desconfortáveis em relação às atitudes dos outros. Atos que participávamos e até sentíamos prazer, gradativamente vamos abandonando, embora ainda com indiferença. Chega o tempo, porém, que já nos sentimos mal diante da atitude equivocada do outro. Esse é o maior desafio para aquele que mudou, mas os outros – o(a) companheiro(a) do lar, do trabalho ou do meio social – não mudaram.

A evolução é um caminho lento, que se constrói no escorrer dos milênios, com pequenas ações, infinitamente repetidas, lapidando o ser para fazer aflorar a sua essência divina de plena luz. Todo o esforço, todas as lutas, todas as vitórias sobre nós mesmos trarão como recompensas a paz íntima e a felicidade que nos aguardam. Façamos o que estiver ao nosso alcance, em todos os momentos, perseverando até o fim.

Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. Revista Espírita. Rio de Janeiro:FEB. Tomo VII. Jan. 1864.