É Possível Amar os Inimigos?

O amor é a essência da Lei Divina exemplificada por Jesus, que veio ao mundo ensinar que o amor deve ser universal, independente de raça, credo, condição social e não se restringindo ao círculo de amigos. Por isso ele afirma “amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mt. 5, 44-45).

Será possível amar os inimigos? Jesus colocou o amor aos inimigos como uma das maiores virtudes a ser alcançada pelo seres humanos. Certamente ainda temos muitas barreiras que precisam ser vencidas, mas mesmo que não consigamos exercitar o amor na sua plenitude, como recomenda o Mestre, há muitas ações que estão ao nosso alcance.

Como amar? A Doutrina Espírita explica esse ensino, esclarecendo que Jesus não pretende que cada um tenha com os inimigos a mesma ternura que dispensa a um irmão, a um amigo. Não havendo confiança, não haverá simpatia entre pessoas que não comungam das mesmas idéias. Ninguém poderá, ao contato com um inimigo, sentir o mesmo que na presença de um amigo. O coração baterá diferente. “Amar os inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos”.1

Por que amar? Para ser superior aos adversários é preciso possuir a alma mais nobre e mais generosa que eles. Por isso Jesus pergunta “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam? Se o bem somente o fizerdes aos que vô-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida?” (Lc. 6,32-33).

Aquele que já assimilou as verdades espirituais terá maior motivo para ser indulgente com seus ofensores, pois sabe que o mal é um estágio transitório, decorrente das imperfeições humanas que também não são eternas. Compreende que por mais infeliz, na forma de agir, que seja uma criatura, um dia alcançará a perfeição, destino de todos.

O espírita também sabe que a morte apenas livra da presença material dos inimigos, mas não do ódio, por isso busca amá-los, perdoá-los para que as desavenças dessa vida não sejam levadas para a dimensão espiritual ou para outra existência.

Jesus, apesar de tudo o que sofreu, quando esteve fisicamente entre nós, continua amando toda a humanidade. Quantas vezes ofendemos Deus e Seu amor por nós não se modifica. A reencarnação é a maior prova disso, já que Ele nos oferece quantas oportunidades necessitamos para que possamos nos regenerar. Não precisamos de outros motivos para educar nossos sentimentos, na certeza que um dia, também vamos amar os inimigos do mesmo modo que o Cristo nos ama.

 

Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 99. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1988. p. 205.