Contagem do Tempo (A)

Ele era um viajante. Seu maior prazer era conhecer lugares e pessoas não superficialmente, mas em profundidade. Observava detalhes, inquiria fatos pitorescos, queria saber da história do lugar.

Certa vez, ao se aproximar de uma longínqua cidade, observou à direita uma linda colina. Estava coberta de verde com muitas árvores, pássaros e flores encantadoras. Tudo estava cercado por uma pequena e rústica cerca. Resolveu conhecer melhor aquele lugar. Caminhou entre as pedras e flores, observando a natureza. Parou para observar uma inscrição em uma das pedras. Leu: “Salim Matub, viveu 7 anos, 5 meses e 2 dias”. Era uma lápide. Angustiou-se ao perceber que se encontrava em um cemitério. Olhando ao redor aproximou-se de outras lápides. Espantado, observou que em todas, quem mais tinha vivido, apenas ultrapassava os 12 anos! Invadido por uma dor muito grande, sentou-se e começou a chorar. Naquele momento, passou um morador da localidade e, em silêncio, ficou próximo do desconhecido. Após o estranho parar de chorar, perguntou-lhe se estava ali por alguém da família.

– Não, ninguém da família – respondeu o visitante. Mas o senhor pode me dizer o que se passou nesta cidade? Que coisa tão terrível aconteceu aqui? Por que há tantas crianças enterradas neste lugar? Que maldição se abateu sobre estas famílias, para que fosse necessário construir um cemitério só para crianças?

O velho falou:

– Por favor, não se angustie! Acalme-se! Não existe nenhuma maldição. O que acontece é que temos aqui um antigo costume: quando um jovem completa 15 anos, ganha uma caderneta, como esta que eu trago comigo. É uma tradição de meu povo que, a partir desta idade, cada vez que desfrutamos intensamente de alguma coisa boa anotamos na caderneta. No lado esquerdo, o que aconteceu; no lado direito, o tempo que durou. Quando conhecemos alguém por quem nos apaixonamos, quanto tempo durou esta paixão e o prazer em conhecê-la; quanto durou a emoção do primeiro beijo, qual foi o tempo em que eu pratiquei o bem, e nas vezes que eu exerci a caridade, o quanto isto me fez bem. E assim vamos anotando todos os momentos bons em nossa vida, cada momento bem aproveitado, cada minuto que valeu a pena. E, quando alguém morre, é nosso costume abrir a caderneta e somar o bem desfrutado para gravá-lo sobre a pedra, porque acreditamos que este é de fato, o único tempo que foi vivido. No balanço final dessa curta existência, o que verdadeiramente terá valido a pena, será o que de bom e útil tivermos vivido.

Texto adaptado pela equipe do Seara Espírita, de fonte desconhecida.