Compaixão II

“Deixai que o vosso coração se enterneça.” Michel

            Dalai Lama, o digníssimo líder dos tibetanos e sumo condutor dos budistas, conta que, certa vez voltando de uma excursão pelo mundo ocidental para a divulgação dos princípios budistas e para a causa de libertação do Tibet, viajou por uma larga extensão do território indiano, país que o asila há quase cinco décadas.

Nesta viagem de retorno ele estava sofrendo de uma grave infecção intestinal, doença que provoca muitas dores e sofrimentos. Apesar das dores, ao passar por vilarejos extremamente pobres, a miserabilidade do lugar e a vida sofrível das pessoas lhe chamou muito a atenção. Viu crianças doentes e velhos deitados em macas improvisadas sem assistência alguma. Aquelas visões provocaram emoções tão profundas que Dalai Lama ficou todo dia e toda noite a meditar acerca daqueles indivíduos tão sofridos, procurando, nos seus pensamentos, emitir vibrações de bondade a todos.

Praticamente sem perceber, viu que as suas próprias dores, até então tão intensas, quase haviam sumido. As lembranças dos sofrimentos alheios e a sua vontade de auxiliar haviam reduzido a percepção da própria dor da doença que o afetava. A COMPAIXÃO pelos outros desviava a atenção da própria mente e, como resultado, reduziu de forma significativa a sensação de dor e ansiedade. A doença certamente ainda tinha um curso até ser debelada, mas as conseqüências haviam diminuído consideravelmente.

Se isso ocorre apenas com o sentimento de compaixão com o outro, imaginem o que não irá ocorrer quando tomarmos atitudes práticas em beneficio do próximo!

Se, pelo menos um membro da família tiver um coração verdadeiramente bom e nobre, todos os membros da família, a vizinhança e a comunidade em geral irão se beneficiar.

Mahatma Gandhi de forma semelhante afirma: Se um homem se ergue, é como se toda a humanidade se levantasse. Uma pessoa, um pensamento, uma atitude de bondade atenuam muitos atos maldosos.

Michel (Espírito) em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. 13, item 17) poeticamente nos diz que apiedade é a virtude que mais nos aproxima dos anjos. Sendo ela irmã da caridade, é a que nos conduz até Deus. Uma piedade bem sentida é amor. Amor é devotamento. Devotamento é o esquecimento de si mesmo. Esse esquecimento, essa renúncia em favor dos infelizes, é a virtude em seu mais alto grau. A piedade compadece-se dos males alheios, é a celeste precursora da caridade, a primeira das virtudes, cujos benefícios prepara e enobrece.

Assim, se queremos realmente lutar pela conquista de um mundo feliz, devemos nos esforçar em desenvolver o nosso próprio coração para o bem e a inteligência para a sabedoria.

Luis Roberto Scholl