“… como perdoamos aos nossos ofensores…”

 Durante a 2ª Grande Guerra Mundial alguns prisioneiros aliados que caíram nas mãos dos japoneses foram enviados à Tailândia, forçados a construir uma estrada de ferro no meio da selva, às margens do rio Kwa Noi (cenário do filme A Ponte do Rio Kwai).

O tratamento dado a esses prisioneiros de guerra era desumano, com trabalhos forçados, sem repouso, sem as mínimas condições de saúde e higiene, sofrendo torturas atrozes, o que levou muitos a adoecer, enfraquecer e morrer.

O ódio direcionado aos algozes tomou proporções absurdas entre os prisioneiros, levando-os às raias da loucura e da selvageria. Então algo aconteceu.

Um Capitão escocês de nome Gordon contraiu grave doença que fatalmente o levaria à morte. Dois Cabos, Miller e Moore, ouvindo a sentença, pronunciada pelos encarregados da enfermaria daquele improvisado hospital, resolveram retirá-lo dali. Levaram-no à uma precária cabana de bambu construída para ele, revezando-se nos seus cuidados, dividindo com o doente a pequena cota de ração diária.

Restituíram-lhe a vida. Os dois jovens soldados tinham algo que nem a tortura, a fome ou a morte tem o poder de retirar: o Amor que vence o medo.

Aos poucos foi se formando ao redor desses dois homens um grupo impulsionado a encontrar um sentido para a vida naquele “inferno”. Reuniam-se em torno da mensagem evangélica cristã, estudando-a, não importando a denominação religiosa que traziam. Compreenderam que precisavam, além de estudar, praticar a moral de Jesus. Organizaram-se em equipes que procuravam auxiliar os prisioneiros mais fracos, dividir o alimento com os enfermos, levantar o ânimo dos desanimados, executar pequenos serviços que favoreciam a todos.

Aos poucos, homens mergulhados em profundo desespero, começaram a participar das reuniões. Em pouco tempo se reerguiam e se engajavam nos trabalhos de auxílio.

Espalhou-se de forma surpreendente a Boa Vontade entre aqueles homens sofridos. As dificuldades não diminuíam, mas, unidos pela fé, pelo ideal e pelo amor suportavam os piores sofrimentos daqueles negros dias da humanidade.

Com muito esforço procuravam seguir fielmente as palavras ditas na Oração Dominical, especialmente a frase “…como perdoamos aos nossos ofensores…”. Constituíam o que Albert Schwaitzer chamou de “irmandade dos que trazem a marca da dor”.

O ódio já não fazia parte da vida daqueles homens: haviam-no substituído pela compaixão. A atitude caridosa era compartilhada com os soldados japoneses que chegavam feridos da guerra. Não os consideravam mais seus inimigos, mas apenas “companheiros de sofrimento”.

Quando chegou a notícia da vitória aliada na guerra não houve nenhuma represalia, nenhuma vingança, nem retaliações aos antigos carrascos. Havia uma intensa alegria em todos, por terem vencido a dor, o sofrimento, o ódio, suportando tudo com amor no coração.

Nos dias de hoje, enquanto muitos ainda se perguntam: Qual é meu objetivo na Terra? Onde está Deus? Que sentido tem a vida?

A resposta foi dada por um dos dois homens que iniciaram a revolução do amor no meio da guerra:

“Procurei minha alma,
e não pude ver.
Procurei meu Deus,
mas Ele se esquivou de mim.
Procurei meu irmão…
e encontrei todos os três!”

Luis Roberto Scholl
Baseado em história verídica relatada por Ernest Gordon
à revista Seleções do Reader’s Digest, em setembro de 1960.