Círculo (O)

Cada ser humano traça um círculo imaginário em torno de si. Dentro está localizado tudo o que interessa: as pessoas que são seus motivos de preocupações, os assuntos que agradam, as atividades que atraem. Com esta intenção é gasta uma enorme quantidade de energia, tempo e dinheiro para manter os outros fora desse círculo, criando-se condomínios e clubes fechados, estradas e praias particulares, áreas de convivência e lazer segregacionistas (Isto é meu; Propriedade Particular; Clube Privado; Proibida a Entrada de Pessoas Estranhas, etc).

É necessário e saudável que existam lugares que sirvam de refúgio para manter a privacidade, para curtir os amigos, que sejam estações de descanso e refazimento aos entraves da vida. O que não é recomendável é o exagero extremado que leva as pessoas ao individualismo cruel, ao egoísmo exacerbado e ao racismo.

O ser humano pode ser medido pelo tamanho do círculo que traça em torno de si. Alguns ainda não conseguem traçar um círculo maior que eles próprios, são os egocêntricos. A maioria vai um pouco além e inclui sua família e alguns poucos no rol de suas preocupações. Outros estendem até as bordas limítrofes do seu grupo social, político, racial, religioso ou econômico. É extremamente pequeno o grupo de pessoas que possuem a grandeza de interesses e a compaixão para ter um círculo grande o suficiente que abranja a todos.

Quanto menor o círculo, menor é o homem. Quanto maior, mais evoluído é o espírito.

A Doutrina Espírita, conforme o pensamento cristão, estimula o indivíduo para que amplie seu círculo de interesses, empenhando-se em beneficio do próximo, segundo a máxima “Fora da CARIDADE não há salvação”1. Mas refere-se à verdadeira caridade, aquela que não mede esforços, não limita o campo de ação e não discrimina, promovendo a indulgência, a tolerância e o perdão.

A reencarnação coloca “por terra” o conceito de classe, casta, hierarquia ou fidalguia. Amplia o conceito de família e laços afetivos. O transeunte de hoje, o infeliz criminoso, o jovem delinquente, a criança na rua, todos poderão ter sido ligados por laços de afetividade ou consangüinidade em uma reencarnação passada e necessitam, na condição de irmãos, consideração e compaixão. Quem poderá afirmar que no passado não tenha vivenciado situações semelhantes?

Quando alguém se propõe a encarar as pessoas com empatia e caridade, amplia seu comprometimento com o semelhante, compreendendo que todos pertencem a mesma família universal. O ser humano comum, que limita e exclui o seu irmão, faz mais mal a si mesmo do que ao outro. Ao fazê-lo, coloca-se em zona de reclusão solitária, negando a si experiências enriquecedoras, aprendizados sublimes e resgates inevitáveis. Endurece o coração e empobrece o espírito.

O homem sábio não permite que interesses mesquinhos, racistas e exclusivistas abortem o seu comprometimento perante o próximo, ao contrário, expande seu amparo e seu círculo a toda a humanidade, encarnada e desencarnada, auxiliando-a de forma efetiva, material, moral e espiritualmente, através da prece.

Qual é o tamanho do seu círculo?

Luis Roberto Scholl
1Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 99 ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1988. cap. XV.