O Cego de nascença

“E quando Jesus passava, viu um homem que estava cego desde seu nascimento; – e os seus discípulos lhe fizeram esta pergunta: Senhor, foi o pecado deste homem, ou o pecado daqueles que o puseram no mundo, que foi a causa para ele nascer cego?” (Jo, 9: 1-2)

Jesus, o Enviado Divino, em sua missionária trajetória, aproveitou todos os momentos do seu curto apostolado para ensinar ao povo simples, mas já capacitado para algumas lições, algo que para ele, como Espírito superior, era coisa simples e natural.

Na passagem supracitada, Jesus é questionado sobre a causa da cegueira de nascença daquele jovem ser dele ou de seus pais. Nessa pergunta observa-se, ainda que primariamente, dois conceitos que a Doutrina Espírita confirma como Leis Divinas ou Naturais. Primeiro a da responsabilidade perante os erros: Lei de Causa e Efeito. O sofrimento humano só tem justificativa se encontrada uma causa que o preceda. A ação no mal poderá ter como conseqüência o sofrimento para quem o pratica – isso é lógico e justo. Ao questionarem o Mestre se a cegueira era por culpa do próprio jovem, sabedores que ele havia nascido cego, entra-se no mérito de que a culpabilidade só poderia ter acontecido em uma outra existência, ou seja, o princípio da Reencarnação. Com a clareza da Doutrina Espírita, em conformidade com os ensinamentos cristãos, passa-se a compreender a dor humana não como castigo divino, mas como reajuste para quem infringiu as Leis Divinas de amor e caridade. Assim, compreende-se que quando não encontrada causa para os sofrimentos atuais nesta vida, deve reportar-se a uma vida precedente, onde se prejudicou a si ou a outra pessoa.

A partir desse entendimento, é possível compreender, então, desde as tragédias particulares até as grandes catástrofes da natureza, como oportunidades para humanidade sensibilizar-se, desenvolver a solidariedade, e para o reajustamento dos envolvidos.

Na passagem evangélica, Jesus ao curá-lo afirma: “- Não é ele que pecou, nem aqueles que o colocaram no mundo; mas é a fim de que as obras do poder de Deus brilhem nele” (Jo, 9: 3). Não havia comprometimento no comportamento do jovem, nem de seus pais, nesta ou noutra encarnação, mas uma escolha consciente deste Espírito, para que se cumprissem as Leis e Jesus se revelasse como o Mestre para a humanidade. O rapaz sem nome do Evangelho era um Espírito em provação, que sem a culpabilidade do passado, aceitou a missão de servir ao Senhor, sendo instrumento da manifestação de Deus.

 

Luis Roberto Scholl
Referência: KARDEC, Allan. A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 19.ed. Araras,SP:IDE,1999.cap XV, item 24-25.