Autoperdão

Em muitas pesquisas realizadas pode-se constatar que os ressentimentos, as mágoas e o sentimento de culpa são encontrados em mais de 90% das pessoas com câncer. Assim o perdão não assume apenas uma importância evangélica, mas também reflete na nossa saúde física e emocional.

A autocondenação e a culpa sabotam nosso aprendizado, porque nos mantêm concentrados no que é ruim, em lugar de nos conduzir na busca do acerto. Precisamos de amor, de compreensão, não de condenação ou castigo. Só o amor, a compreensão e o perdão nos levam a reconhecer e a buscar as mudanças necessárias.

Izaias Claro nos diz que devemos agradecer a nossa consciência quando ela nos avisa do erro, mas não devemos estacionar no remorso. Quando ela desperta façamos como no despertador, uma vez acionado devemos trancá-lo para que não caminhemos com a culpa e sim para a reparação.

Não guardemos culpa. Optemos pelo melhor, modificando nossa conduta. Precisamos reconhecer o erro, mas não nos fixar nele. Precisamos nos permitir o direito de haver errado, mas também, reconhecer que agora desfrutamos a oportunidade de reparar o equívoco.

Na busca do autoperdão é necessário nos ver de forma positiva e construtiva. Se observarmos atentamente os nossos pensamentos e o que falamos, talvez a maioria irá descobrir que, na maior parte do tempo, fala consigo mesmo de forma crítica. Vamos desligar esse diálogo interno negativo, modificando a nossa forma de ver a vida e a nós mesmos, reforçando sempre o bem, o positivo e o correto, centrando nossa atenção na busca do acerto e não na culpa pelo erro.

Durante toda nossa existência fomos acumulando conceitos a nosso respeito. Desde nossa infância, aceitamos comentários e críticas a nós dirigidas. No entanto, nem tudo é verdadeiro. Precisamos reavaliar isso. Restabelecendo o nosso real valor, sem o exagero que é o próprio orgulho, mas também sem o desprezo que seria a nossa auto-humilhação. Por isso, precisamos alimentar a nossa mente com outros conceitos. Como filhos de Deus, embora ainda imperfeitos, somos merecedores do amor e do perdão Divinos. Apesar dos nossos equívocos, também temos muitas virtudes, que às vezes não vemos, pois estamos muito centrados nos erros, nas fraquezas e nos tropeços. Assim necessitamos alimentar e estimular as coisas positivas que existem em nós. Sem lutar contra os pensamentos negativos, mas direcionando-os para coisas positivas, sempre que eles tentarem nos atormentar.

Outra situação, que em nada nos ajuda, são as lamentações. Eu deveria ter estudado ou trabalhado mais. Eu deveria ter agido diferente. Eu não deveria ter perdido aquela oportunidade. E muitos outros deverias … Às vezes chegamos a dizer: Não me perdôo por ter agido assim. Em outras, até decretamos antecipadamente a nossa sentença, quando dizemos: Eu não irei me perdoar se errar dessa vez. Com esse discurso, inconscientemente estamos fazendo um julgamento negativo das nossas ações e nos enchendo de culpas.

Diante do erro, vamos lembrar que ficar remoendo acontecimentos infelizes, em nada nos ajuda, pois estacionaremos na culpa. Vamos esquecer os nossos insucessos. Todos nós somos dignos de uma nova oportunidade para a reparação dos nossos enganos. Vamos aproveitar bem essa existência, extraindo dela o que ela nos possibilita de melhor, mesmos nos erros e nos tropeços. Se cairmos, vamos levantar quantas vezes forem necessárias, lembrando de agradecer a Deus todas as experiências por mais dolorosas que possam ter sido.

Vamos sentir e vivenciar o momento presente, sem a vinculação com os erros do passado, mas sem a ansiedade do futuro. O passado não pode ser mudado, apenas reparado. O futuro está distante. O que mais importa agora é como estamos agindo hoje. É hoje que podemos reparar o passado. É agora que podemos construir um futuro melhor.

Sempre é tempo para iniciar uma mudança em nossa vida. Não vamos esperar a próxima encarnação, pois talvez as dificuldades possam até ser maiores. Talvez não tenhamos as mesmas oportunidades.Diante do erro, busquemos a reparação, escolhendo Jesus como modelo e guia, aceitando os nossos limites, mas nos perdoando sempre. Tendo consciência que a evolução é uma caminhada individual, somente nossa, e ninguém poderá fazê-la por nós.

“Habitue-se a perdoar. Faça do perdão a sua estrada da paz interior.
Tenha certeza que o perdão é o fim de uma luta: consigo mesmo,
com os familiares, com os amigos e inimigos”.
(Jason de Camargo)