O Assassinato do Sr. Poinsot

Alguns programas de televisão, a maioria deles produzidos nos EUA, apresentam pessoas dotadas de aptidões especiais, alguns sensitivos, outros médiuns, que se utilizam de seus dons para desvendarem mistérios, crimes ou auxiliarem na solução de processos judiciais. Alguns desses personagens apresentam-se descaradamente charlatões, enquanto que outros surgem no contexto da história como realmente sérios e portadores dessa capacidade especial.

Sem entrar no aspecto comercial desses seriados, alguns se perguntam se isso é possível. Os Espíritos poderiam auxiliar a polícia a desvendar e o judiciário a julgar crimes, assassinatos de difícil solução através da informação fornecida aos médiuns, estes indivíduos “especiais”? Por que no Brasil, onde o Espiritismo é mais difundido, não se utiliza deste meio para resolver graves problemas, diminuindo o risco de ocorrerem injustiças?

Em março de 1861, Allan Kardec publica na Revista Espírita ano IV (Ed. FEB) um texto onde destaca uma quantidade enorme de solicitações de seus leitores para que fosse evocado o Espírito do Sr. Poinsot, vítima de assassinato recente, para que ele, em Espírito, pudesse dar informações que auxiliassem na solução do seu próprio caso, ainda insolúvel.

Kardec, com toda a seriedade que o caracterizava, respondeu que jamais o Espiritismo e a mediunidade deverão ser utilizados como objeto de curiosidade sem responsabilidade mas, atendendo a insistentes pedidos e a título de instruir aos homens, solicitou ao guia espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas se tal evocação era possível: “- O Sr Poinsot não pode responder ao vosso apelo, ainda não se comunicou com ninguém. Deus o proíbe, no momento” – respondeu o nobre Espírito, desmentindo a informação trazida por outros de que a própria vítima havia solicitado ser evocada na Sociedade.

Quando Kardec insiste em saber o motivo, novamente o Espírito responde que revelações deste gênero influenciariam a consciência dos juízes que deveriam agir com total liberdade nas suas decisões. A justificativa de que com a informação dos Espíritos se evitaria erros lamentáveis e até irreparáveis nos julgamentos não é válida, pois Deus quer deixar a inteira responsabilidade das sentenças, como deixa a cada homem a inteira responsabilidade de seus atos. Não é dessa forma que os juízes devem ser esclarecidos, pois o mérito e o trabalho das pesquisas devem ser dos encarnados.

Se, por ventura não houver informações suficientes que possibilitem o culpado escapar da justiça, afirmam os Espíritos superiores que ninguém escapa da justiça divina. Se ele deve ser condenado pela justiça dos homens, Deus sabe como fazê-lo cair em suas mãos.

E, no caso de um inocente ser condenado? Isto não seria um grande mal?

Deus julga em última instância e o inocente condenado terá sua reabilitação. Se for por falha ou negligência dos responsáveis pelo sistema, estes responderão pelos seus atos insensatos. Para o injustiçado, essa condenação pode ser uma prova útil ao seu adiantamento, também pode ser uma condenação justa de um crime, da qual terá escapado em outra existência.

Os Espíritos tem por missão nos instruir na via do bem e não facilitar o caminho terreno, que deve ser o resultado do esforço da nossa inteligência. Os Espíritos superiores, conhecedores de todo o saber, poderiam facilmente nos poupar das pesquisas não só na área da criminologia, como na área cientifica, médica, etc, dando-nos respostas prontas às nossas dúvidas. Mas isso de nada serviria aos homens, não auxiliaria em seu progresso e tornaria a humanidade preguiçosa, pois tudo viria pronto sem maiores esforços.

Quando a revelação deve ser feita por meios extra-humanos, Deus lhe dá um caminho de autenticidade capaz de levantar todas as dúvidas, como temos o exemplo nos dois casos cuja resolução jurídica foram esclarecidos através de cartas de comprovada autenticidade, psicografadas espontaneamente por Francisco Xavier, médium de inquestionável probidade.

Quando nos afastamos do fim providencial do Espiritismo é que nos sujeitamos a sermos enganados por Espíritos inferiores e malévolos que procuram a tudo responder e a tudo solucionar sem medir as consequências de seus atos.

Aos bons Espíritos podemos, sim, através da prece, da meditação, da inspiração pedir o auxílio, a intuição, a serenidade para encontrarmos os caminhos e as melhores formas de resolvermos os nossos problemas, mas jamais as soluções virão prontas, como mágica, pois cabe a nós, pelo nosso esforço, pela nossa boa vontade, assistidos por eles, chegarmos a resultados úteis, práticos e bons.

 

Luis Roberto Scholl