A cadeira na praia

  Ademir era um tio muito querido pelos seus sobrinhos. Jovem, ainda não havia casado e tinha tempo disponível para passear e brincar com os filhos de seus irmãos. Sempre que possível, ele procurava dar conselhos úteis às crianças, estimulando-as a terem condutas honestas em suas vidas.

Aquelas férias seriam muito especiais porque todos passariam juntos na praia, ocasião rara de acontecer.

Era comum no fim da tarde,, Ademir convidar seus sobrinhos para passearem à beira do mar para observarem a natureza exuberante do lugar, confabular sobre a vida, os planos para o futuro; um momento muito agradável que todos apreciavam, uma forma de agradecimento a Deus pela vida.

Naquele dia, já ao entardecer, a trupe saiu como de costume. A praia estava deserta e havia um lindo pôr do sol. A agradável conversa foi interrompida por um achado de Túlio, menino muito observador, de nove anos:

– Tio, olhe lá! – apontando o dedo para o meio da praia. É uma cadeira esquecida por alguém.

Realmente não havia mais ninguém por perto. Alguém, apressado em voltar para casa, havia deixado sua cadeira na praia e, talvez só fosse notar a falta dela, quando descarregasse suas coisas em casa.

Marcos, de 12 anos, ágil no pensamento disse: – Vamos pegá-la e levá-la para nós. Com tanta gente lá em casa ela nos será muito útil.

Amanda, sempre questionadora, perguntou, olhando para o tio: – Será que isso é honesto? Será que podemos fazer isso?

No que Marcos, prontamente, respondeu: – Mas claro que podemos. Não roubamos ninguém, apenas pegamos a cadeira de um descuidado que a esqueceu. Vamos pegá-la antes que outro mais esperto a pegue – concluiu o jovem.

Nisto, interveio Régis: – Não roubamos, mas também não é nosso. Acho que não devemos fazer nada. Não é nossa preocupação o que vai acontecer com a cadeira. Se o dono tiver sorte, é capaz de voltar e ela ainda estar ali, ou, por azar, outro espertinho vai levar antes. Problema dele…

Ademir, percebendo a oportunidade de aprendizado que aquela situação estava trazendo, instigou: – Pessoal, é muito interessante o que vocês estão colocando. Mas gostaria de fazer uma pergunta: Se fosse um de nós que tivéssemos esquecido a cadeira, que gostaríamos que acontecesse?

– Ah tio, eu gostaria que alguém devolvesse para mim. Ela faria muita falta. – respondeu Amanda.

– Eu também gostaria, mas, como devolver se ninguém sabe quem é o dono? – perguntou Marcos.

– Alguém tem outra ideia? – questionou o tio.

Lúcio, que até então estava calado, resolveu dar a sua opinião: – É claro que não devemos levá-la porque não é nossa. Também não podemos deixá-la ali, como se não tivéssemos nada a ver, porque não gostaríamos que fizessem assim com a nossa cadeira. Acho difícil devolvê-la para o dono, porque não sabemos quem é. Então só nos resta uma opção: levá-la a um responsável mais próximo, um achados e perdidos, por exemplo, ou a uma guarita de salva-vidas, para que o esquecido tenha a oportunidade de encontrar novamente o seu objeto.

– O que vocês acham da ideia? – perguntou Ademir.

Todos, de forma unânime, concordaram com a proposta de Lúcio; era a mais justa e honesta.

– Muito bem, disse Ademir. Agindo assim estaremos seguindo a Regra Áurea!

– REGRA ÁUREA! Que é isso??? – todos queriam saber.

– É a regra de Jesus: Fazer ao outro o que gostaríamos que nos fizessem e não fazer ao outro o que não gostaríamos que nos fizessem. Se agirmos assim jamais nos enganaremos – concluiu Ademir.

Então, depois de um longo e produtivo debate, alegres, partiram para fazer o que haviam combinado. Eis que chega um carro e estaciona rapidamente próximo a eles. Desce o motorista que, com a expressão ao mesmo tempo preocupada, mas muito alegre, avista a solitária cadeira que ele havia deixado para trás porque teve que levar, rapidamente ao Pronto Socorro, seu filho que havia se machucado na praia, conforme explicou aos jovens. Agora que o filho estava bem, veio buscar os pertences deixados na correria.

Aquela noite, em casa, foi de profundas reflexões. Todos estavam felizes por terem tomado a decisão correta, entendendo que esta experiência serviria de parâmetro para todas as escolhas que teriam daqui para frente em suas vidas.

Luis Roberto Scholl